A Amnistia Internacional diz que França e Reino Unido não devem tentar resolver o problema do tráfico de seres humanos no Canal da Mancha bloqueando simplesmente a passagem.
Na sequência da trágica morte de dezenas de migrantes ilegais no Canal da Mancha, na quarta-feira passada, Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional em Portugal, diz que a melhor solução passa por analisar cada situação.
"Não vale a pena os líderes políticos lamentarem a situação, e lamentarem as mortes se, depois, a sua ação não é consequente com as declarações que produzem tão prontamente. A resposta tem que ser ampla. Aquilo que temos pedido na Amnistia Internacional é trabalho prático, que seja resolvido o problema a montante. Em primeiro lugar, é preciso questionar o que é que está a fazer com que todas esta pessoas fujam do seu país de origem e procurem outro sítio para viver. É preciso que as políticas e as ajudas públicas ao desenvolvimento tomem em atenção os problemas concretos das pessoas.”
Em segundo lugar, diz, “quando as pessoas têm que migrar, tem que procurar refúgio ou asilo político, têm que ter rotas legais e seguras. Se essas rotas existissem, e fossem eficazes, não haveria ‘gangsters’ e tráfico de seres humanos.”
“Tem que haver algum controlo, na passagem do túnel, mas não basta fechar a porta. Se estas pessoas quiserem pedir asilo, têm esse direito. Depois de ponderado esse pedido, se for autorizado, ficam, senão haverá um processo de retorno”.
O Canal da Mancha é, apenas, mais uma das crises humanitárias que estão a ser vividas, em simultâneo, pela União Europeia nas suas fronteiras, embora com origens e causas diversas. O Mar Mediterrâneo funciona, desde há muito, como um tampão à entrada de migrantes e refugiados vindos do norte de África. Um número indeterminado de seres humanos já morreu, durante a travessia, e os que são bem-sucedidos desesperam, depois, por um visto em campos de refugiados.
Também há um muro que se ergue na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, para travar a entrada na Europa de milhares de migrantes, que estarão a ser empurrados por Aleksandr Lukashenko.
Há muitas semelhanças na dimensão humana de todas estas crises, mas também há diferenças, explica Pedro Neto. "Sim, há algumas diferenças. Aquilo que acontece na Polónia, na Bielorrússia, na Lituânia e na Letónia é que os jornalistas não conseguem lá chegar, nem as ONG que pretendem prestar assistência humanitária.”
“No Mediterrâneo, por seu lado, as ONG já estão a ser criminalizadas pela ajuda humanitária que querem dar. Já no Canal da Mancha, o que vemos é uma completa indiferença. Os líderes políticos fazem algumas declarações, a lamentar a situação, e apresentam algumas propostas vagas, sublinhando que é preciso fazer alguma coisa. Na verdade, são eles quem deve fazer alguma coisa. São eles os líderes eleitos para agir e administrar politicas publicas que resolvam os problemas", sublinha Pedro Neto.