“Estamos todos dependentes da guerra”, admite Rafael Grossi, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) em entrevista à Renascença, referindo-se à central de Zaporíjia, na Ucrânia, que está sob domínio das tropas russas no contexto da invasão do país.
O antigo diplomata argentino acrescenta que a guerra “tem a sua lógica”, e que à Agência Internacional de Energia Atómica resta tentar “ajudar”.
Como? Rafael Grossi assume que está a tentar “encontrar as vias políticas, diplomáticas e logísticas”, para chegar a esta que é a maior central nuclear da Europa, com seis reatores.
Nesse esforço, o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica admite estar “a falar com todos”, e isso significa dialogar com o Kremlin. “Temos de falar com as pessoas que detêm o controlo efetivo do território. No caso de é a Rússia”.
A maior fonte de preocupação com esta central são os materiais nucleares, que não estão cobertos pelo “sistema de inspeções”.
“Seis reatores, 30 mil quilos de plutónio, 40 mil quilos de urânio enriquecido”, elenca Rafael Grossi. Este material não está a ser inspecionado porque esta central nuclear está sob o domínio das tropas russas.
Já esta semana, em declarações aos jornalistas portugueses, o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica admitiu uma situação “muito difícil” em Zaporíjia e não afastou a possibilidade de haver um acidente por causa dos mísseis que sobrevoam esta zona, no sudeste da Ucrânia.
Energia nuclear “não é uma questão do futuro”, é "o agora"
A opinião é de Rafael Grossi em plena Conferência dos Oceanos da ONU. O diretor geral da Agência Internacional de Energia Atómica considera que “a energia nuclear é já compatível” com a transição energética. “Aqui na Europa, 25% da energia limpa é nuclear”, lembra.
“No futuro pode fazer ainda mais”, atira o antigo diplomata argentino. Este especialista explica que há “uma nova geração de reatores pequenos e modulares” que podem atirar a energia nuclear para o primeiro plano da descarbonização da indústria energética.
Essa é uma opção defendida por outros protagonistas, como é o caso de Bill Gates. O fundador da Microsoft, que agora se dedica a outras áreas, é também o criador da Terra Power, uma empresa de design de reatores nucleares.
“O Sr. Bill Gates, que sabe uma coisa ou outra sobre a economia mundial e o futuro, está a apoiar muito”, sublinha Rafael Grossi a sorrir. O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica acrescenta que este organismo “também está aqui para fazer esse apoio”.
A energia nuclear é limpa, praticamente inesgotável e económica. Há riscos de segurança e saúde associados, sobretudo em caso de acidentes, como o de 1986 em Chernobil. Um dos principais problemas é o tratamento do lixo radioativo, sendo que esse é um dos pontos onde têm sido feitos avanços tecnológicos, com o objetivo de melhorar o tratamento dos reatores nucleares utilizados.