Restrição ao fumo em espaços fechados faz oito anos. “A lei passou a ser um hábito”
30-12-2015 - 12:19
 • Rosário Silva

A Renascença esteve no Sabugueiro e no centro de Évora para atestar a aplicação da lei do tabaco, que a 1 de Janeiro faz oito anos. Na aldeia e na cidade, o mesmo resultado: algumas críticas, mas o reconhecimento de que as infracções são poucas.

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Há já um ano que o jovem Pedro Gama tomou conta do bar da Sociedade Recreativa Irmãos Unidos do Sabugueiro (SRIUS), uma pequena aldeia no concelho de Arraiolos.

Frequentado, sobretudo, pelos locais, o espaço é um misto de café e bar, com um horário alargado de funcionamento e uma aposta na animação de fim-de-semana.

O desafio, numa aldeia despovoada, convive bem com a proibição de fumar no estabelecimento, fixada em lei a 1 de Janeiro de 2008. Sem espaço para fumadores, faça sol ou chuva, quem quer fumar tem mesmo de o fazer no exterior, independentemente do ambiente familiar ser favorável a um “fechar de olhos” ao cumprimento da lei.

“Não se nota qualquer incómodo por parte dos clientes por terem de fumar na rua. Aliás, qualquer pessoa já, naturalmente, se levanta e sai para fumar o seu cigarro”, garante à Renascença este gerente de 33 anos.

Chamadas de atenção raramente são feitas. Quando acontecem devem-se, quase sempre, a alguma distracção. “Principalmente com pessoas que, sendo naturais daqui, não residem no Sabugueiro, estando emigrados e, por isso, frequentam estabelecimentos, nos locais onde vivem, onde é permitido fumar”, explica Pedro Gama.

“Têm esse hábito e esquecem-se”, mas “recordados não levantam problemas de qualquer ordem”.

A lei virou hábito

Pedro Gama deixou de fumar há pouco tempo. Mas ainda antes de ter deixado o tabaco não só adoptou “facilmente as novas normas” como as apoiou.

Hoje, continua a frequentar a vida nocturna (faz animação musical), conhece alguns espaços nocturnos, cumpridores da lei, mas reconhece que nos locais onde é permitido fumar, mesmo com extracção de fumos, “os ambientes ficam mais abafados, sem qualidade de ar, já para não falar no cheiro intenso”.

A lei “deixou de ser vista como tal e já é um hábito maioritário dos fumadores”. Também não é motivo que prejudique o negócio, garante o gerente, que destaca antes o benefício para “o ambiente físico do espaço, que ganha qualidade substancial”.

“Não tenho conhecimento de que alguém deixe de vir ao bar da SRIUS por não se fumar”, acrescenta Pedro Gama. “Aliás, posso afirmar que 80% dos meus clientes até são não fumadores.”

E na cidade?
Maria Ribeiro, fumadora há 15 anos, vive e trabalha em Évora. Já pensou e tentou deixar de fumar “várias vezes”. Até agora, sem sucesso.

No café/restaurante onde falou à Renascença, há locais devidamente identificados, para fumadores e não fumadores.

O facto de permitir que se fume leva Maria Ribeiro a frequentar este estabelecimento no centro histórico da cidade alentejana. “Apesar de procurar espaços com zona de fumadores, não deixo de ir a um café ou restaurante simplesmente porque ali não posso fumar”, diz.

Concorda com as imposições da lei, já digerida, e diz que mudou alguns hábitos de consumo nos últimos anos.

“É sabido, pelo menos por quem fuma, que o cigarro pós-café ou refeição é fundamental, e o facto de não o podermos fazer com a liberdade com que o fazíamos ainda é difícil de aceitar. Termos que sair do local onde estamos, quer seja público, quer seja de trabalho, para fumar, não é de todo agradável e continua a fazer-me sentir um pouco ‘à margem’ e privada dos meus direitos”, desabafa.

Ainda assim, entre um e outro cigarro, num local onde fumar é consentido, Maria Ribeiro confessa que “é bem mais agradável ter espaços limpos de fumo, principalmente os de grande afluência de público, como os centros comerciais ou as salas de espectáculo”.