A Proteção Civil registou desde quarta-feira cerca de 8.500 ocorrências devido ao mau tempo e, apesar do “ligeiro desagravamento das condições meteorológicas” durante o dia de hoje, a situação no rio Douro, na Régua, Porto e Gaia, ”é preocupante”.
“No rio Douro é previsível que nas próximas horas o nível das águas ainda suba cerca de meio metro, as barragens estão a descarregar água para ganhar capacidade de encaixe, para que seja depois possível, 'à posteriori', regularizar todo o leito do rio. Esta é uma situação preocupante, quer na Régua, quer na foz do Douro, na margem do Porto e também na margem de Gaia”, disse o comandante Pedro Nunes, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
Quanto ao número de ocorrências registadas desde as 15h00 de quarta-feira, Pedro Nunes adiantou que foram contabilizadas cerca de 8.500 “relacionadas com a depressão Elsa”.
Nas operações de socorro estiveram envolvidos cerca de 25 mil operacionais de “todos os agentes de proteção civil”, acrescentou, em declarações aos jornalistas na sede nacional da ANEPC.
Capitania diz que não há habitações em perigo no Porto e em Gaia
O Capitão Cruz Martins afastou esta sexta-feira à noite a possibilidade de haver habitações em perigo na sequência do aumento do caudal do rio Douro nos cais da Ribeira (Porto), Vila Nova de Gaia e na Afurada, também neste concelho. O responsável reiterou que as "previsões para as próximas horas são de que a água continue a subir como efeito da saturação de água em toda a bacia [hidrográfica] do Douro".
"São duzentos e muitos quilómetros de rio, que têm diversas barragens que estão praticamente na sua capacidade máxima. Está a ser feita uma gestão de descargas nessas barragens de forma a não causar situações demasiado graves em vários sítios", acrescentou Cruz Martins, explicando que o período crítico acontecerá entre as 22:30, quando ocorrer o pico da maré cheia, e o início da madrugada.
Informando que "não é possível prever quantos metros é que [a água] vai subir", acrescentou que subirá "o suficiente para invadir zonas onde até agora não tinha chegado", razão pela qual, há seis horas, a "capitania implementou o alerta vermelho para cheias, alertando as populações para recolher os seus bens e não deixar viaturas estacionadas junto ao rio". "A necessidade de descargas das albufeiras vai ser agravada, na foz do Douro, pela maré cheia que vamos ter às 22h30. Depois é previsível, no início da madrugada, que a água baixe, mas é uma situação que vai continuar nos próximos dias, pois irá manter-se a necessidade de haver descargas", precisou o capitão.
Confirmando estar a barragem de Crestuma/Lever, a mais próxima do Porto, "praticamente no seu limite" e que, devido a isso, "tem de fazer descargas", o responsável da capitania, falou de outras situações ao longo do rio. "A situação que nos causa mais preocupação é na Régua, onde a água já se encontra acima da marginal, tendo sido feito uma descarga na barragem que está a jusante para evitar maiores problemas", explicou de uma gestão de fluxo de água que disse ter o "efeito dominó, ao longo das 14 barragens" para diminuir os danos.
Douro subiu 1,20 metros o caudal e entrou quase 30 metros pela Praça da Ribeira
O rio Douro subiu 1,20 metros e entrou quase 30 metros pela Praça da Ribeira, no Porto, até às 22h30, momento em que atingiu a maré cheia, disse hoje fonte da Proteção Civil. Quando atingiu a maré cheia, o rio Douro quase cobre a Praça da Ribeira, tendo o limite de segurança sido alargado por duas vezes desde que, cerca das 18h00, galgou pela primeira vez as margens do lado portuense.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, esteve no local a acompanhar a situação na fase em que ameaça entrar no período mais crítico e transmitiu uma mensagem de tranquilidade à população. "Temos todos os recursos municipais há 24 horas a trabalhar. Estivemos à altura das necessidades da população e queremos, principalmente, que as pessoas não corram riscos. Que se deixem estar em casa sossegadas que as nossas equipas cá estão para tratar do que for preciso", garantiu.
Dando conta de um contacto da parte do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, dirigido aos autarcas do Porto e de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vitor Rodrigues, Rui Moreira disse que o governante os informou do que “estava a acontecer com as descargas das barragens", além de que manifestou solidariedade.
"É sempre de saudar quando um governante, que também é do Porto, se preocupa com o que se está aqui a passar", observou o presidente da Câmara do Porto, destacando que em matéria de alertas, o município se "antecipou à Proteção Civil nacional e à capitania", numa intervenção que até incluiu "megafones em Miragaia". E prosseguiu: "Cuidámos da população, do seu comércio, fizemos muitos transportes e tivemos cuidados com os automóveis, sendo que nenhum deles ficou danificado".
Com um drone ao lado – no chão da praça – pronto a ser utilizado pela Proteção Civil, o autarca explicou que se destina "a verificar estruturas que estão agora submersas, principalmente os cabeços que seguram os barcos”.
Devido ao avançar das águas, um hotel de luxo situado na praça ficou com a receção, sala de estar e a cave inundadas.