Uma mudança na alimentação terá um efeito considerável na mitigação das alterações climáticas, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa, indicam cinco organizações que apelam ao Governo para uma "mudança urgente no sistema alimentar".
As organizações apresentam 15 recomendações políticas num documento intitulado "Plano Nacional de Incentivo à Produção e Consumo de Proteínas Vegetais", publicado na página do movimento "Proteína Verde", que defende uma mudança no sistema alimentar mundial e mais consumo de leguminosas em detrimento da proteína de base animal.
As cinco organizações que produziram o documento, a Associação Vegetariana Portuguesa (AVP), a Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA), e as organizações ambientalistas Zero, Greenpeace e GEOTA, salientam num comunicado hoje divulgado a importância de uma alimentação assente em proteína de base vegetal.
Mudar o que se produz e se come "evita o suicídio ambiental e climático, mas também económico", diz Joana Oliveira, da AVP, citada no comunicado.
Lembrando que a agricultura e a pecuária intensivas têm impactos negativos no sistema climático, nos ecossistemas, na manutenção da biodiversidade e na saúde humana, e dizendo que uma mudança global na alimentação poderia reduzir o equivalente a até oito mil milhões de toneladas de CO2 por ano, até 2050, os autores do documento defendem uma mudança para uma dieta à base de leguminosas e legumes.
As cinco organizações propõem, entre outras medidas políticas, a criação de mecanismos que incentivem a conversão dos terrenos atualmente destinados à pecuária intensiva em unidades agrícolas de produção de base vegetal.
Alimentação é o setor que mais pesa na pegada ecológica
E defendem também formação para disponibilização de refeições de base vegetal no setor da restauração pública (como cantinas escolares), mais apoios ao cultivo de leguminosas, e "a consideração dos impactos ambientais que decorrem da agropecuária nos apoios públicos concedidos", reduzindo esses apoios.
Entre as medidas está também a criação de um fundo de apoio a novos projetos desenvolvidos por pequenas e médias empresas e relacionados com a transformação de leguminosas, a redução, ou anulação, do IVA das frutas, vegetais e leguminosas, e a criação de uma rotulagem de pegada ecológica dos alimentos.
Lembrando que a alimentação é o setor que mais pesa na pegada ecológica dos portugueses, as cinco organizações recomendam que o Fundo Ambiental direcione apoios para desenvolver políticas que envolvam a sustentabilidade do setor alimentar.
E salientam que a inovação, a pesquisa, o investimento e o desenvolvimento das proteínas de base vegetal já acontecem em países como a Dinamarca ou o Canadá, "onde setores ligados à alimentação de base vegetal receberam um apoio público de quase 100 milhões de euros".
Portugal, afirma-se no documento, é muito dependente da importação de leguminosas secas, produzindo apenas 18,6% do que consome. .
Na Europa, onde a grande maioria da produção agrícola "é destinada à criação de animais e à produção de biocombustíveis", o mercado das leguminosas cresceu mais de 27% (dados de 2020), e a indústria europeia de base vegetal, como um todo, aumentou 49% entre 2018 e 2020.