As eleições diretas do PSD estão marcadas para 11 de janeiro e, até lá, ainda há todo um calendário eleitoral a cumprir. O calendário permite a entrega de candidaturas até ao fim de dezembro, mas tudo indica que a corrida à liderança social-democrata se ficará pelos três candidatos já assumidos e que têm esta quarta-feira o seu primeiro debate, na RTP.
Rio, o homem do centro
Rui Fernando da Silva Rio nasceu a 6 de agosto de 1957, no Porto. Tem 62 anos.
É licenciado em Economia pela Universidade do Porto, foi presidente da Associação de Estudantes da FEP e foi atleta federado na modalidade de atletismo. Rui Rio fala recorrentemente desse facto, para dizer que - na política como na vida - já não é um corredor de velocidade, mas sim um corredor de fundo.
É casado e tem uma filha, vive no Porto, mas - por ser atualmente líder do PSD e deputado - tem de passar parte da semana em Lisboa.
Desempenhou vários cargos de gestor e diretor financeiro em diferentes empresas e setores de atividade. Passou pela banca, no então Banco Comercial Português, pela CIN, fábrica de tintas, pela Boyden e a Neves de Almeida, empresas da área de gestão de recursos humanos. Pelo meio, foi eleito deputado pelo Porto, em 1991, 1995 e 1999, foi secretário-geral do PSD na direção de Marcelo Rebelo de Sousa entre 1996 e 1997, foi vice-presidente de Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite e foi - como nunca deixa de dizer com orgulho - presidente da Câmara Municipal do Porto, entre 2001 e 2013.
Portugal ao Centro
Depois de ter ganho o partido contra Pedro Santana Lopes nas diretas de janeiro de 2018, Rui Rio avança para uma segunda tentativa. Demorou perto de duas semanas a ponderar sobre essa decisão, na sequência de um resultado historicamente baixo para o PSD - 27,7 por cento dos votos, o equivalente a 79 deputados. Recusou que tivesse sido “um desastre”, que “muitos previam e alguns até desejavam”, mas essa é precisamente a acusação que lhe fazem os críticos. É o segundo resultado mais baixo de sempre na história do PSD.
Quando quebrou o silêncio pós-eleitoral que impôs a si próprio, Rui Rio veio defender a decisão, proclamando que a “não recandidatura pode levar a uma grave fragmentação” do partido, mas disse ainda mais: “Portugal precisa de um PSD livre, livre de interesses pessoais” e acrescentou que o partido não pode ser tomado por “interesses pouco claros”.
Os adversários não gostaram.
Rio quer o PSD no centro político, defendo a social-democracia por oposição aos liberalismos dos adversários; estes dizem que o PS já ocupa esse espaço e que o PSD tem de diferenciar-se com uma alternativa clara aos socialistas.
O atual presidente do partido social-democrata assumiu entretanto, provisoriamente, a liderança da bancada parlamentar e tem procurado usar esse palco para vincar. nos debates parlamentares, essa oposição clara ao Governo de António Costa.
Montenegro, o desafiador
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves nasceu a 16 de fevereiro de 1973, no Porto. Tem 46 anos.
É licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa e tem uma Pós-Graduação em Direito à Proteção de Dados Pessoais, pela mesma instituição.
É casado e tem dois filhos, vive em Espinho e é advogado na SP&M - Sousa Pinheiro e Montenegro, Sociedade de Advogados - criada em 2012.
É administrador-geral de duas empresas, a Rádio Popular e o grupo Ferpinta, no setor do turismo.
Em 2005 foi candidato à Câmara de Aveiro, mas perdeu. Presidente da Assembleia Municipal de Espinho e deputado na Assembleia Metropolitana do Porto, foi nas funções de deputado à Assembleia da República, onde esteve durante 16 anos, que se destacou no percurso político. Luís Montenegro foi líder da bancada parlamentar entre 2011 e 2017, durante os anos da troika e durante o consulado de Pedro Passos Coelho à frente do PSD.
Abandonou o mandato em abril de 2018, mais de um ano antes do fim da legislatura.
A Força que vem de dentro
Luís Montenegro não se apresentou às diretas de 2018 no PSD, mas em Janeiro de 2019 desafiou Rui Rio para novas eleições, por entender que o seu partido estava em perda e que ainda ia a tempo de reverter para as legislativas de 2019. Falhou o propósito e perdeu a contenda num Conselho Nacional a que o atual líder do partido se refere sempre como “o golpe de Estado de Janeiro”.
Logo depois das legislativas, perante um resultado historicamente baixo do PSD, anunciou numa entrevista à SIC que era candidato contra Rio.
Propõe-se aproveitar “a força que vem de dentro” do partido “para devolver o D” ao PSD. Concita apoios de vários rostos que estiveram ligados ao PSD de Passos Coelho, casos de Maria Luís Albuquerque, Paula Teixeira da Cruz, José Pedro Aguiar Branco, Luís Menezes, António Leitão Amaro, Berta Cabral, Rui Machete (foi ministro dos Negócios Estrangeiros no governo liderado por Passos Coelho). Também conta com o apoio de Pedro Duarte, ex-líder da JSD, que não avançou para a corrida interna.
Uma das críticas mais recorrentes que faz ao principal adversário é precisamente a de não se distinguir do PS, por estar demasiado ao centro e não apresentar uma alternativa. Luís Montenegro diz querer ser primeiro-ministro e “dar uma maioria absoluta ao PSD”.
Pinto Luz, o revitalizador
Miguel Martinez de Castro Pinto Luz nasceu em Lisboa a 8 de março de 1977, e vive em Cascais. Tem 42 anos.
Licenciado em Engenharia Eletrotécnica e em Engenharia Informática pelo Instituto Superior Técnico e Mestre em Redes de Computadores pelo mesmo Instituto. Frequenta atualmente um doutoramento na Rotterdam School of Management, na Holanda. É casado e tem três filhos.
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Cascais, tem no currículo a administração de várias empresas ligadas a autarquia, incluindo a Fundação Paula Rego/Casa das Histórias. Dirige a empresa Cascais Dinamica, E.M.S.A.
De entre os candidatos do PSD às eleições diretas de 2020 é o que tem um trajeto menos mediático, apesar de ter uma militância longa, de 25 anos, e de ter sido presidente da Distrital de Lisboa entre 2013 e 2017. Do currículo profissional e político consta ainda a passagem pelo efémero XX Governo Constitucional, liderado por Pedro Passos Coelho, onde exerceu durante 27 dias o cargo de secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, no final de 2015.
O Futuro diz Presente
Miguel Pinto Luz apresenta-se numa página em nome próprio, onde entre várias confidências mais pessoais se assume como católico, como homem de família, casado pela segunda vez (Martinez Castro são apelidos da atual mulher), como romântico e recatado.
Diz que vem para “revitalizar o PSD”, que está a perder influência na sociedade portuguesa desde há mais de uma década, por razões conjunturais mas também por não ter sido capaz de “ler e traduzir as mudanças sociológicas ocorridas no país”.
Na apresentação formal da candidatura, garantiu que, se for eleito, “o PSD nunca será a segunda escolha do PS” e defendeu a necessidade de um “novo contrato social”, com maior liberdade de escolha entre setor público e privado. Defendeu ainda uma menor carga fiscal para as famílias.
A distrital de Lisboa do PSD indicou o seu nome para as listas de deputados às legislativas de 2019, mas Rui Rio deixou-o de fora.
Há no PSD quem veja nesta candidatura um posicionamento para o futuro. Para já, partilha parte do espaço social-democrata com o adversário Luís Montenegro.
Tem, entre os seus apoiantes, alguns rostos ligados a Passos Coelho, como Marco António Costa ou José Matos Rosa, que foi secretário-geral do PSD no consulado anterior. Conta ainda com o apoio do presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, de Vasco Rato e José Eduardo Martins, mas sobretudo – e ainda que de forma bastante discreta por estes dias – com o apoio declarado de Miguel Relvas, o antigo braço direito de Passos.