Nas eleições regionais e municipais do último domingo os socialistas espanhóis (PSOE) sofreram algumas derrotas sérias. O PSOE, com Pedro Sánchez, governa Espanha desde 2018. Logo na manhã de segunda-feira o chefe do governo Sánchez decidiu dissolver o parlamento e antecipar as eleições para 23 de julho (estavam antes previstas para dezembro do corrente ano).
A constituição espanhola dá ao chefe do governo o direito de dissolver o parlamento e de convocar eleições, direito que em Portugal cabe ao Presidente da República. Mas Espanha é uma monarquia, sendo o Rei o chefe de Estado, por isso é natural que não lhe caiba aquele direito.
Note-se que não foi apenas o PSOE que teve maus resultados eleitorais; o partido Unidas Podemos, “muleta” do PSOE ao longo dos últimos cinco anos, teve resultados ainda piores; por exemplo, não conseguiu entrar para o parlamento da Comunidade de Madrid por não ter atingido o mínimo de 5% dos votos.
O diário “El País” fez uma extrapolação dos votos nas eleições municipais de domingo para as eleições marcadas para 23 de Julho. Este exercício, a confirmar-se, daria uma vitória ao Partido Popular (PP), de centro-direita, mas sem maioria para governar, mesmo com o apoio do VOX, da direita radical. VOX ao qual a extrapolação do “El País” aponta que perderia votos relativamente à eleição de domingo passado. Não é de excluir que das próximas eleições nacionais não saia uma qualquer maioria que permita governar com alguma segurança. A ingovernabilidade é um risco que pesa sobre a cabeça de Sánchez.
Decerto que P. Sánchez optou por eleições daqui a pouco mais de um mês e meio, em vez de eleições no fim deste ano, porque assim julga limitar as perdas do seu partido. Já Alberto N. Feijóo, líder do PP, acredita que o ciclo político espanhol mudou agora. O melhor resultado obtido pelo PP foi na comunidade de Madrid; ali, Isabel Ayuso, da ala direita do PP, não só melhorou a sua votação como conseguiu uma maioria absoluta sem apoio do VOX. Ayuso é uma provável futura líder do PP.
No início de junho a Espanha assume a presidência rotativa da União Europeia. Na prática, essa presidência poderá ser prejudicada, sobretudo se demorarem muito as negociações para formar o futuro governo espanhol.
A economia espanhola tem evoluído satisfatoriamente. Mas há em Espanha um problema de fundo: apesar da regionalização trazida pelas 17 comunidades autónomas, com governos e parlamentos regionais (como entre nós acontece nos Açores e na Madeira) tem-se acentuado a desertificação demográfica em muitas áreas do território espanhol. Em Espanha, pelo menos, a regionalização não tem funcionado como antídoto da desertificação.