A saída do Reino Unido da UE foi aprovada num referendo britânico em junho de 2016. Os promotores britânicos do Brexit não estavam, porém, preparados para enfrentar e resolver os problemas que essa saída da UE iria levantar, como levantou.
Nas negociações entre britânicos e a UE para um acordo de saída o problema mais difícil foi a questão do Ulster (Irlanda do Norte), território que faz parte do Reino Unido.
O acordo chamado de Sexta-Feira Santa, de 1998, que pôs fim a décadas de guerra civil entre protestantes e católicos, prometeu manter aberta a fronteira entre o Ulster e a República da Irlanda. Como não quebrar essa promessa solene se, com a saída do Reino Unido da UE, o Ulster também saísse do espaço comunitário?
A solução encontrada foi manter o Ulster no mercado único e na união aduaneira da UE. Nesse ponto, o Ulster não acompanhou, assim, a saída do Reino Unido. O governo britânico aprovou essa solução. Mas cedo quis voltar atrás. O impasse mantém-se.
Os partidos protestantes do Ulster não gostam deste arranjo, que implica uma fronteira virtual no mar, entre aquele território e o Reino Unido. Aqueles partidos receiam que tal situação leve, a prazo, a que o Ulster seja absorvido pela República da Irlanda, saindo do Reino Unido.
Não se vislumbra, porém, que outra solução possa ser encontrada para o problema. O Ulster não pode servir de via de entrada, sem pagar direitos, de mercadorias britânicas no mercado único europeu, que o Reino Unido abandonou. Durante anos a questão foi exaustivamente debatida entre a UE e Londres e nada melhor surgiu.
Este é o grande problema do Brexit. Mas há outras questões que revelam como foram pouco ou nada pensadas, em Londres, as consequências do Brexit. Desde logo, levantou-se há dias um aceso contencioso entre a França e o Reino Unido em matéria de pescas.
Mais preocupante para o Reino Unido, a praça financeira de Londres perdeu boa parte da sua importância. A bolsa londrina viu acelerar a queda do seu peso – revela o semanário “The Economist” que em 2006 as ações registadas na bolsa de Londres representavam mais de 10% do mercado acionista mundial; agora representam apenas 3,6% desse mercado.
Nesta semana os militares britânicos começaram a ajudar no transporte de combustível para as estações de serviço, muitas das quais tiveram de encerrar.
O Brexit acelerou a falta de motoristas de veículos pesados de mercadorias, que se faz sentir nos combustíveis e em muitos outros bens que agora escasseiam nas prateleiras dos supermercados britânicos.
Aqueles motoristas são considerados trabalhadores não qualificados, o que levou milhares de imigrantes vindos da UE a abandonarem o território britânico.
Talvez se trate de situações transitórias, que mais tarde serão ultrapassadas. O mesmo não se pode dizer do Ulster.