O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considera que "se não for agora, não há mais margem para o SNS recuperar”.
Em entrevista à Renascença, a propósito plano de funcionamento das urgências de ginecologia e obstetrícia divulgado esta quinta-feira sob a forma de publicidade em alguns jornais, Campos Fernandes diz que o Governo e a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão a fazer o que deve ser feito.
“O que dá trabalho é o que esta equipa está a fazer, que é uma reforma que tem de ser ponderada, tem de ter consistência, tem de ter fio condutor e tem de saber para onde vão. Não há mais margem para o SNS recuperar, estamos mesmo no limite”, afirmou.
Para Adalberto Marques Fernandes, o que não pode continuar a acontecer é a “escalada de variação de custos” que se tem verificado, situação que não aconteceu “em nenhum país na OCDE”.
“Temos de tornar o sistema mais eficiente, perceber que é preciso recuperar os rendimentos perdidos e que não podemos fazer duas coisas que são muito simples: dizer que há falta de recursos e meter em cima dos problemas dinheiro, dinheiro, dinheiro que desaparece, ou então, criar umas comissões e fechar a torto e a direito”, sublinhou.
“Não é um bom sinal”, recordou o antigo ministro, “ter passado de nove mil milhões para 15 mil milhões de despesa publica em saúde e a esmagadora maioria das dificuldades não ter sido resolvida”.
À Renascença, o também médico reconhece que a situação herdada pelo ministro Manuel Pizarro e por Fernando Araújo, o diretor executivo do SNS, “não é uma situação fácil”.
O importante, diz, é o trabalho que tem estado a ser feito últimas semanas, e que vai ao encontro do plano agora anunciado.
“Primeiro, a urgência metropolitana de Lisboa vai ser, seguramente, uma realidade a curto prazo, à semelhança do que existe há tantos anos no Porto. Segundo, há uma afirmação feita pelo próprio diretor executivo que diz que tudo fará para não encerrar maternidades na Área Metropolitana de Lisboa”, recorda.
Para o antigo ministro da Saúde, “fechar por fechar, é errado”, sendo que o correto é “reestruturar e concentrar os serviços que se podem concentrar”.
“O SNS não pode desertar, recuar sistematicamente”, apresentando-se isso como uma reforma.
“Isso não é uma reforma, isso é o mais fácil de fazer”, argumenta, recusando a ideia de que isso seja um primeiro passo para a extinção de serviços, nomeadamente de maternidades.
“As maternidades não fecham, o que pode fechar é o ponto de contato, é o serviço de urgência e isso é um trabalho técnico de grande exigência que está a ser feito e ao que tudo indica será conhecido no princípio do ano”, afirma.
Sobre as críticas ao tempo que demorou a apresentar plano e a forma como foi feita essa apresentação, Adalberto Campos Fernandes considera que foi “uma opção da direção executiva”, mostrando admiração pelo “Professor Araujo, um homem que trabalha menos nos aspetos mediáticos e mais na ação e informação”.