Israel anunciou esta sexta-feira que está disposto a intervir militarmente na Síria para proteger uma vila da comunidade drusa, perto da fronteira.
A vila de Hader situa-se numa zona de conflito entre forças governamentais e diferentes facções da oposição, de influência extremista islâmica. Embora a zona esteja formalmente ocupada por militares sírios e seus aliados, a Frente al-Nusra anunciou recentemente uma campanha para “libertar” as vilas sob domínio do regime nos Montes Golã. Os habitantes, que são na esmagadora maioria drusos, tendem a apoiar o regime sírio.
O aviso de Israel surge dias depois de um carro armadilhado ter feito, pelo menos, nove mortos em Hader.
Esta tomada de posição israelita vem demonstrar a complexidade das relações entre as diferentes facções e os vários países no conflito sírio.
Embora tenha intervido pontualmente com ataques aéreos na Síria ao longo dos últimos anos, Israel tem-se mantido essencialmente como observador da guerra civil. Oficialmente o estado judaico e o Governo da Síria estão ainda em guerra, e Israel ocupa grande parte dos Montes Golã, que pertenciam à Síria, desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
À inimizade que tradicionalmente existe entre os governos de Síria e de Israel vem juntar-se o facto de Bashar al-Assad contar com o apoio militar do Irão – cujo regime já ameaçou varrer Israel do mapa – e da milícia libanesa Hezbollah, contra a qual Israel travou uma guerra em 2006.
Naturalmente também não existe empatia entre Israel e as milícias islamitas que actuam do lado sírio da fronteira, embora tenha havido diversas acusações de colaboração entre as forças armadas de Israel e estas ao longo dos últimos anos. Certo é que Israel já acudiu a feridos do lado Sírio da fronteira, transportando-os para Israel para serem tratados. Em pelo menos duas ocasiões drusos no estado judaico atacaram essas ambulâncias, matando pelo menos um dos jihadistas que estava a ser transportado. Israel reconhece a assistência médica, que justifica com bases humanitárias, mas diz que as acusações de colaboração militar não têm qualquer fundamento.
Mas a disponibilidade de Israel defender a aldeia de Hader em particular deve-se ao factor religioso. Os drusos praticam uma religião própria e esotérica, com algumas influências islâmicas. São uma comunidade fechada, com fama guerreira, e tendem a ser leais aos regimes dos países em que se encontram. Israel não é excepção e os drusos participam activamente nas forças armadas daquele país, sendo tradicionalmente bem-vistos pelo Governo e pela população como cidadãos leais.
Sendo um grupo étnico tão fechado, os drusos de Israel são parentes dos sírios e tem havido muita pressão por parte da comunidade israelita para defender os seus irmãos em Hader.
O comunicado das Forças Armadas israelitas não deixa dúvidas, aliás, quanto à sua motivação. “As Forças de Defesa de Israel estão preparadas para auxiliar os residentes e evitar os danos ou a captura da aldeia de Hader, por compromisso com a população drusa”, lê-se.