O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano, Donald Trump, considerou esta segunda-feira que o julgamento contra si que hoje se inicia em Nova Iorque é um "ataque contra a América" e uma "perseguição política".
Pouco antes do início da audiência no tribunal de Manhattan -- onde Trump responde por uma acusação de ter usado dinheiro da sua campanha presidencial de 2016 para obter o silêncio da atriz Stormy Daniels para encobrir um caso extramatrimonial - o candidato republicano repetiu que este processo judicial é uma "perseguição política" organizada pelo Governo do presidente democrata Joe Biden, que será seu adversário nas eleições presidenciais.
Pouco mais de três anos depois de deixar a Casa Branca, Trump enfrenta a possibilidade de ter de cumprir uma pena de prisão, o que, se acontecer, não o impedirá de ser candidato às eleições presidenciais de 05 de novembro.
"Os riscos são muito elevados, porque Trump e os seus advogados conseguiram até agora adiar outros julgamentos" -- incluindo dois em que é acusado de tentativas ilegais de anular os resultados das eleições presidenciais de 2020 e um em que é acusado de ter guardado ilicitamente documentos confidenciais - explicou Carl Tobias, professor de Direito na Universidade de Richmond.
Dos quatro casos judiciais em que Trump está envolvido, contudo, este que decorre em Nova Iorque é o único que deverá ir a julgamento antes das eleições, de acordo com analistas.
O julgamento, no centro de Manhattan, realiza-se debaixo de um dispositivo de elevada segurança, esperando-se manifestações de protestos pró e anti-Trump, assim como a presença de jornalistas de todo o mundo, apesar de as audiências não serem televisionadas.
Hoje, realiza-se a seleção dos 12 jurados que serão responsáveis por declarar, por unanimidade, se Donald Trump será considerado culpado ou inocente - um processo que poderá demorar vários dias.
Pelo menos uma centena de residentes de Manhattan estarão reunidos na sala do tribunal, onde terão de responder a um longo questionário sobre as suas filiações políticas, e as suas simpatias, ou não, por Donald Trump.
Trump é indiciado por 34 falsificações de documentos de contabilidade da sua empresa, a Trump Organization, que alegadamente pretendia ocultar, sob o pretexto de honorários de advogado, pagamentos feitos na reta final das eleições presidenciais de 2016 para comprar o silêncio de Stormy Daniels.
Por 130 mil dólares (pouco mais de 100 mil euros), a atriz de filmes pornográficos concordou em manter silêncio sobre uma relação sexual com o bilionário republicano 10 anos antes, quando este já era casado com Melania Trump.
Donald Trump sempre negou esta relação e a sua defesa pretende demonstrar que os pagamentos foram realizados no âmbito da sua esfera privada.
Contudo, a acusação - liderada pelo procurador Alvin Bragg, eleito como democrata - quer demonstrar que houve de facto manobras fraudulentas para ocultar informações aos eleitores poucos dias antes da eleição presidencial, que foi vencida por Trump, por margem estreita, frente à candidata democrata Hillary Clinton.
Um dos desafios do julgamento será determinar o que Donald Trump sabia sobre estes pagamentos quando ocorreram.
O seu ex-advogado pessoal, Michael Cohen, que pagou o dinheiro a Stormy Daniels -- na versão daquele, a pedido do seu chefe -- e já foi condenado em tribunal federal por este caso, será uma das testemunhas-chave da acusação.
A defesa pretende denegrir a imagem desta testemunha, que se tornou inimiga de Donald Trump e que também foi condenada por mentir perante o Congresso norte-americano.