A formação contínua de professores é essencial para o sucesso dos alunos, mas a grande maioria dos docentes portugueses sente-se pouco incentivada a fazê-la, defende um dos autores do livro "Formação de professores: tendências e desafios".
A formação contínua de professores e o equilíbrio entre a teoria e a prática na formação inicial são alguns dos pontos essenciais para o sucesso da profissão, segundo Javier Valle, professor na Universidade Autónoma de Madrid e um dos três autores do livro promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) apresentado esta quarta-feira na Universidade do Algarve.
O livro oferece um conjunto de reflexões feito por três especialistas em educação: o professor António Mouzinho, a investigadora italiana Francesca Caena e o especialista em educação Javier M. Valle.
Javier Valle defende que é "necessário reformular de forma adequada a formação permanente", mas reconhece que faltam incentivos para os docentes o fazerem e que em muitas escolas não existe essa oferta.
O especialista lembra que a grande maioria dos professores espanhóis (80%) e portugueses (85%) sente que não recebe incentivos suficientes para participar na formação contínua, segundo o Inquérito Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS), promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Com base naquelas percentagens, o relatório TALIS conclui que "isto é importante porque as taxas de participação estão abaixo da média em Espanha e em Portugal".
"Em alguns países, a maioria dos professores trabalham em escolas sem qualquer programa formal de indução. É o caso de Brasil, Espanha, México, Polónia e Portugal, onde entre 70% a 80% dos professores trabalham em centros educativos onde não existe tal programa de indução", cita Javier Valle.
O especialista aponta vários factores essenciais na formação de professores, tais como a selecção dos alunos que pretendem entrar num curso de formação de docentes, o acesso à profissão docente após essa formação, a liderança pedagógica das escolas ou o prestígio social da profissão.
Investigadora defende avaliação de docentes na sala de aula
Também a professora Francesca Caena, da Universidade de Veneza, partilha de algumas opiniões do investigador espanhol. Depois de estudar a realidade de vários países europeus, encontrou pontos comuns sobre o que considera serem as competências necessárias que todos os professores devem dominar, tais como a importância da formação estar "intimamente ligada às escolas - ao terreno educativo - e não só às instituições de ensino superior".
No mesmo sentido, entende que também a avaliação das competências dos docentes deve ser feita na sala de aula e no exercício da profissão. Finalmente, defende que a formação deve ser um processo contínuo. .
Apesar do consenso quanto à importância da formação dos professores para o sucesso dos alunos, existem muitas opiniões sobre a forma como essa formação deve ser concretizada.
António Mouzinho, professor do ensino secundário em Portugal há mais de 40 anos, escreve com base na sua reflexão pessoal sobre o processo de selecção, formação, exercício e contratação e defende que todo este processo deverá conduzir à permanência na actividade docente com felicidade e realização pessoal, o que constituirá um benefício para o aluno, para a escola e, em última instância, para o sistema de ensino.
O autor português critica a introdução das provas de acesso para os professores (PACC), que classifica de "pífias" e defende que "todo o ensino em Portugal precisa de uma séria revisão curricular".
A apresentação do livro, hoje no Algarve e depois em Lisboa, insere-se na iniciativa Mês da Educação, lançada pela FFMS, que tem contado com a realização de vários debates a nível nacional e a apresentação de estudos em áreas como a do desempenho dos alunos ou a qualidade da escola.