Segundo jornalista norte-americano detido na Rússia este ano
19-10-2023 - 22:28
 • Lusa

Detida em Kazan, a capital da república russa do Tartaristão, Alsu Kurmasheva enfrenta acusações de não se registar como "agente estrangeiro" na qualidade de pessoa que recolhe informações e pode ser condenada até cinco anos de prisão.

Uma jornalista russo-americana da Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL) foi detida na Rússia e acusada de não se registar como "agente estrangeiro", revelou a sua empresa esta quinta-feira.

Kurmasheva, editora do serviço Tatar-Bashkir da RFE/RL, está num centro de detenção temporária, disse a Tatar-Inform, uma agência de notícias estatal na república do Tartaristão.

O Comité de Proteção dos Jornalistas (CPJ) classificou as acusações contra Kurmasheva como "falsas", exigindo que as mesmas sejam retiradas e a jornalista libertada.

A Tatar-Inform disse ainda que as autoridades acusaram a jornalista de recolher informações sobre as atividades militares da Rússia "para transmitir informações a fontes estrangeiras", nomeadamente sobre professores universitários mobilizados para o exército russo.

Detida em Kazan, a capital da república russa do Tartaristão, Alsu Kurmasheva enfrenta acusações de não se registar como "agente estrangeiro" na qualidade de pessoa que recolhe informações e pode ser condenada até cinco anos de prisão.

"Alsu é uma colega altamente respeitada, esposa dedicada e mãe de dois filhos", disse o diretor da RFE/RL, Jeffrey Gedmin. "Alsu precisa de ser libertada para que possa voltar para a sua família imediatamente".

Os Estados Unidos consideram que a detenção de uma jornalista russo-americana por parte das autoridades russas é um novo caso de "hostilização" desse país para os cidadãos americanos, e criticou que Moscou não tenha notificado Washington ainda dessa detenção.

O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, afirmou que o governo norte-americano está a seguir o caso.

"Ainda não fomos notificados oficialmente (da detenção) pelo governo russo, mas é um caso que estamos a seguir desde que lhe retiraram o passaporte em maio, proibindo-lhe a saída do país", disse Miller em conferência de imprensa.

A Embaixada dos EUA em Moscovo afirmou estar ciente dos relatos da captura de Kursmasheva.

A jornalista foi inicialmente detida no Aeroporto de Internacional de Kazan a 02 de junho, depois de viajar para a Rússia por causa de uma emergência familiar, segundo a RFE/RL.

As autoridades no aeroporto confiscaram os passaportes russos e americanos da jornalista, que foi multada por não registar o seu passaporte dos EUA junto das autoridades russas.

Kurmasheva aguardava pela devolução dos seus documentos quando lhe foi feita a acusação na quarta-feira, informou a RFE/RL.

"Naquela altura, estava claro que não tinham nada contra ela, portanto talvez fosse uma forma de intimidação. E depois disso demoraram três meses para decidir como iriam organizar o caso contra ela", disse Galina Arapova, do Centro de Defesa da Comunicação Social da Rússia.

A RFE/RL foi instruída pelas autoridades russas a registar-se como agente estrangeiro em 2017.

Alsu Kurmasheva reportou sobre as comunidade de minorias étnicas nas repúblicas do Tartaristão e Bashkortostan na Rússia.

Vários analistas indicam que Moscovo pode estar a utilizar americanos presos como moeda de troca, após o aumento das tensões EUA-Rússia com a invasão da Ucrânia.