Vacinação Covid-19: Como fazem as pessoas sem médico de família?
26-01-2021 - 14:35
 • Liliana Monteiro

O médico Nuno Jacinto explica como se deve proceder durante esta fase da vacinação e mostra-se preocupado com a sobreposição entre a primeira fase dos idosos e a segunda dos lares e profissionais de saúde.

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Os centros de saúde ainda não sabem como contactar todos os utentes cobertos pela segunda fase de vacinação contra a Covid, uma vez que muitos utentes são seguidos no privado ou não têm médico de família.

Decorre nesta altura um trabalho administrativo intenso para cruzar listas e chegar às pessoas com 50 anos que sofrem de determinadas patologias.

Nuno Jacinto, da Associação de Médicos de Medicina Geral e Familiar, diz que tem de haver uma articulação entre médicos do público e do privado.

“Essa é uma das grandes preocupações. Pode haver aqui várias estratégias. Foi disponibilizado agora pela tutela uma plataforma onde é possível fazer a inscrição e o registo e os utentes podem fazer o registo dando indicação de que querem ser vacinados e que têm critério para tal, mas temos essas limitações inerentes ao uso da internet, e pode não ser acessível para todos”, diz.

“Se tivermos a falar de doentes que estejam a ser seguidos no privado, provavelmente a maneira mais fácil será promover a articulação entre médicos e fazer com que os colegas que estão no privado emitam um relatório que será entregue ao médico de família desse utente, apesar de ele não ir lá com frequência dando a indicação de que determinada pessoa tem critérios para ser vacinado. Caso o utente não tenha médico de família atribuído, mas esteja inscrito nalguma unidade, dependendo da unidade onde esteja poderá contactar a própria unidade”, acrescenta Nuno Jacinto.

Por enquanto, diz o médico, pede-se que os utentes aguardem uma chamada e que apenas contactem os centros de saúde em último caso, para não sobrecarregar os profissionais.

“A ideia neste momento é aguardar o contacto, porque esse trabalho está a ser feito, muito à custa dos profissionais e das próprias unidades. Se eventualmente alguém que cumpre um desses critérios e que veja que nos próximos dias, ou na próxima semana, ou no tempo em que começa a vacinação não seja chamado poderá contactar o médico de família, mas nesta fase o princípio é esperar pela chamada, porque nós não temos capacidade de sermos inundados com todos os pedidos de contacto e dar resposta a mais todas essas solicitações.”

Nuno Jacinto explica que neste momento os médicos estão a cruzar informações. “Temos recebido da tutela as listas de utentes, com os utentes supostamente elegíveis, que cumprem os critérios para esta fase. Essas listas estão a ser validadas pelas unidades, médicos e enfermeiros de família que estão a fazer esse trabalho, percebendo se há mais utentes que, cumprindo os critérios, não estão incluídos naquelas listas e, portanto, também têm de ser chamados para essa vacinação.”

Surge agora uma preocupação grande porque a primeira fase de vacinação destes cidadãos vai cruzar-se com a segunda fase dos lares e dos profissionais de saúde, que arranca já na próxima semana.

"Ainda estamos numa altura em que estamos a fazer as segundas doses das vacinas nos lares e estamos também a vacinar com a segunda dose os profissionais que fizeram a primeira dose nas últimas semanas. Vai obviamente haver uma sobreposição que nos preocupa, vão aparecer mais estes doentes para vacinar e obviamente que a rotina das unidades de saúde vai ter de ser alterada, porque é uma tarefa grande e complexa que exige atenção e dedicação.”

“É mais uma alteração às nossas rotinas e mais uma tarefa em cima de algo que já era complicado fazer", conclui Nuno Jacinto.