Não é possível garantir que Navalny foi assassinado pelo regime de Putin. Mas é razoável presumir que o foi. Navalny tinha sido vítima de envenenamento em 2020; então salvou-se ao ser tratado na Alemanha. E são conhecidos numerosos casos de opositores ao regime russo que foram alvo de atentados, por envenenamento e por outro qualquer meio letal – queda de janelas, por exemplo, ou desastre (?) de avião (como aconteceu com o ex-patrão do sinistro grupo Wagner, Prigozhin).
Navalny regressou da Alemanha e decidiu manter a sua oposição aberta ao regime, na Rússia. Por isso foi preso em fevereiro de 2021 e nunca mais saiu da prisão. Agora encontrava-se numa colónia penal na Sibéria, perto do círculo polar ártico, em condições atmosféricas nada favoráveis a uma boa saúde.
Claro que as autoridades russas rejeitam a acusação de terem liquidado Navalny. Mas não têm credibilidade. O presidente da Duma (câmara baixa do parlamento russo) veio acusar a NATO, os EUA e a Ucrânia pela morte de Navalny – um absurdo semelhante à acusação de Putin à NATO e ao Ocidente pela invasão russa da Ucrânia.
A morte de Navalny suscitou um grande coro de lamento e protesto por todo o mundo. Mas de Trump não se ouviu uma palavra a respeito desta tragédia. É natural, dada a simpatia de Trump por Putin.
É mais uma demonstração de como extrema-direita e extrema-esquerda se encontram no desprezo que ambas têm pela democracia liberal. Ambas as posições consideram a democracia um regime fraco – pois se este regime não admite liquidar os adversários políticos...
Os extremistas aproveitam essa pretensa fraqueza da democracia para avançarem com propaganda, direta e indireta, de regimes alegadamente fortes. A violência está no cerne das posições extremistas.
Quanto a Trump, a violência encontra-se na raiz do desprezo dele pelas leis e até na sua atitude perante as mulheres. Os inúmeros processos judiciais em que Trump se tem visto envolvido não são para o impedir de voltar à Casa Branca (como ele alega, vitimizando-se), são resultantes da fraca importância com que ele encara as leis do seu país e a dignidade das mulheres.