Ao contrário do que é habitual, o ex-secretário-geral do PS Ferro Rodrigues interveio na Comissão Nacional do partido, que decorreu este sábado num hotel em Lisboa, e onde fez duras críticas ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal de Justiça.
Ferro Rodrigues acusou mesmo a justiça de ter interrompido o curso do Governo PS. "O Governo de maioria absoluta que o PS conquistou contigo [António Costa] ao leme foi destruído por atos e omissões da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal de Justiça, pelo menos", disse o ex-líder.
Nesta intervenção, Ferro Rodrigues refere mesmo que a dissolução do Parlamento não surgiu por "força das oposições, seus argumentos ou gritos. Não foi por défice de vontade ou de empenhamento" do primeiro-ministro, António Costa.
O ex-líder do PS foi mais longe referindo que "esta crise, a mais grave da nossa Democracia quase no cinquentenário, foi originada por um comunicado irresponsável, ou consciente dos efeitos que produziria, ou então analfabeto de responsabilidade da PGR, referindo o Supremo Tribunal de Justiça".
PS viveu "um filme parecido há 20 anos"
Na intervenção à porta fechada e a que a Renascença teve acesso, Ferro Rodrigues lamentou que António Costa "nem sempre" tenha sabido rodear-se "por pessoas irrepreensíveis para cumprimento do programa" do Governo.
Neste ponto, o ex-secretário-geral do PS pediu ao partido que tem de se "reforçar" com "bons quadros", não nomeando, contudo, os quadros socialistas que neste Governo não foram "irrepreensíveis".
Como Augusto Santos Silva já o fez, também Ferro Rodrigues diz que se "exige que os mesmos que levaram à demissão" de Costa "com toda a urgência" o "ilibem de quaisquer responsabilidades".
Face aos pedidos de Pedro Nuno Santos de não passar "quatro meses a falar do processo judicial" que envolve o primeiro-ministro, Ferro Rodrigues distancia-se dessa posição. "Não posso nem devo acolher essas orientações", diz taxativo, "porque há que pedir responsabilidades".
Ferro deixa ainda críticas à procuradora-geral da República e a Adão Carvalho, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. "Não é admissível que perante tão grave crise a voz da PGR seja a do Sindicato" e "porque não é compreensível o silêncio do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça".
O ex-secretário-geral socialista rematou a intervenção dizendo que defende tudo isto porque viu e viveu "um filme parecido há 20 anos" durante o processo Casa Pia que o envolveu diretamente e à cúpula do PS.
Na parte final da intervenção, Ferro apertou ainda mais um pouco o parafuso ao sistema judicial. "Quando uma 'Justiça' sem rosto põe em causa a Democracia política, sinto o dever de a pressionar para ser clara, transparente, identificável".
Sem declarar apoio a qualquer dos três candidatos à liderança do PS - José Luís Carneiro, Pedro Nuno Santos e Daniel Adrião - o ex-líder socialista alertou que a campanha deve decorrer "sem pôr qualquer dos candidatos a secretário-geral debaixo do fogo dos justicialistas" e sem "pôr o PS em maior perigo do que está".
Aos três candidatos, o antigo Presidente do Parlamento pede ainda que "sejam capazes de uma campanha à PS", onde impere "a dignidade" e a "afirmação democrática" e o "amor" a Portugal, à democracia e ao partido.