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O cardeal patriarca de Lisboa considera “abusiva” qualquer tentativa de legalizar a eutanásia, propondo uma sociedade “paliativa” que esteja ao lado dos mais fracos e necessitados.
“Recuarmos neste ponto seria gravíssima limitação da liberdade autêntica”, advertiu esta quinta-feira D. Manuel Clemente, na homilia da missa a que presidiu no Mosteiro dos Jerónimos, por ocasião da solenidade da Imaculada Conceição.
A celebração, com a ordenação de um padre e cinco diáconos, representou a conclusão do Sínodo Diocesano, sendo por isso a ocasião escolhida para a apresentação da Constituição Sinodal, resultante dos trabalhos da assembleia consultiva da última semana.
O também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) sublinhou a importância de defender a vida “do nascimento ao crescimento, até à morte natural”.
O patriarca propôe “mais presença e companhia” por parte das comunidades católicas, em particular junto de quem mais sofre, procurando alargar o “manto protector” para quem sofre.
D. Manuel Clemente voltou ao tema em declarações aos jornalistas no final da cerimónia. “A eutanásia não elimina apenas a dor, elimina a vida. E a vida é um direito inviolável pela nossa Constituição. Artigo 24: a vida humana é inviolável. Portanto, se é inviolável vamos fazer disto também uma prática de proximidade, de conforto e de presença”, declarou.
Em relação ao Sínodo Diocesano, o cardeal falou da importância de assumir este “conjunto de opções” em comunidade e “em crescimento na fé”. “Só em conjunto faremos o que devemos”, realçou.
A eutanásia vai ser debatida no Parlamento, depois de a comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias ter aprovado, no final de Novembro, o relatório sobre a petição que pede a despenalização da eutanásia.
A petição, subscrita por mais de oito mil pessoas, vai, assim, a debate no plenário da Assembleia da República. Os deputados deverão ser chamados a tomar posição no início do próximo ano, tendo o Bloco de Esquerda (BE) e o PAN anunciado que apresentarão iniciativas próprias.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pediu já um debate sobre eutanásia alargado a outros sectores da sociedade portuguesa. Considera que a discussão política é insuficiente.
A Igreja Católica, bem como quase todas as principais confissões cristãs, muçulmanas e judaicas, condena firmemente qualquer prática que antecipe a morte de um doente, seja a seu pedido ou não, opondo-se por isso tanto à eutanásia como ao suicídio assistido.
Eutanásia em debate desde Fevereiro
Tudo começou com um manifesto em defesa da morte assistida, assinado por políticos de vários quadrantes, cientistas, médicos e artistas. O documento, lançado no início de Fevereiro, deu entrada na Assembleia da República no dia 26 de Abril, com mais de oito mil assinaturas.
Em Março, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lançou uma nota pastoral que contesta uma eventual legalização da eutanásia em Portugal e rejeita qualquer solução que coloque em causa a “inviolabilidade” da vida.
Em Abril, a CEP reforçou a sua posição de “total rejeição” de uma eventual legalização da morte assistida, afirmando, em comunicado que “a Igreja nunca deixará de defender a vida como bem absoluto para o homem, rejeitando todas as formas de cultura de morte”.
Durante a Caminha pela Vida, a 14 de Maio, foi lançada a petição contra a eutanásia, que também pede "mais apoios para os idosos”. As assinaturas já existentes foram recolhidas online, no site www.todaavidatemdignidade.org.
Cinco bastonários da Ordem dos Médicos assinam uma carta na qual se opõem frontalmente à eutanásia, considerando que esta prática “não é mais do que tirar a vida” e que os médicos que o façam negam a profissão.