Por ocasião dos 50 anos do fim da ditadura, esta coluna propõe-se evocar alguns factos importantes dessa transição. Começa hoje, com a análise da revolta militar.
O 25 de abril de 1974 foi uma revolta militar. Ora revoltas militares, melhor ou pior sucedidas, foi o que mais houve em Portugal desde o tempo da monarquia. Mas o que aconteceu há 50 anos foi diferente – o triunfante golpe militar acabou por entregar o poder aos civis, criando uma democracia pluralista, algo que nunca antes tinha sucedido.
O movimento militar foi, antes de mais, resultado da insatisfação profissional do quadro permanente dos oficiais dos três ramos das forças armadas. Os militares não viam, da parte do poder político, uma saída para o fim da guerra colonial; iniciada em 1961, em Angola, guerra que alastrou depois à Guiné e a Moçambique.
Os militares sentiam que o poder político da altura não era capaz de acabar com a guerra, de que eles eram os grandes sacrificados. A perspetiva de uma guerra sem fim era insuportável para os militares. A insatisfação destes era ainda aumentada por certas medidas governamentais quanto aos oficiais milicianos, que, no entendimento dos militares do quadro permanente, os prejudicavam.
Se o governo de então não permitia esperanças razoáveis de pôr fim à guerra, os militares não viram outra solução que não fosse derrubarem o poder político. O que fizeram com êxito.
Seguiram-se alguns anos de forte agitação política (tema da próxima coluna). Mas depois de muitas vicissitudes, em 30 de setembro de 1982 uma lei constitucional extinguiu o Conselho da Revolução. Os militares saíam do poder político.