Mais de 61 milhões de iranianos vão às urnas nesta sexta-feira para eleger o Parlamento e a Assembleia de Peritos, numa votação que deverá reforçar o domínio dos conservadores face à ausência de qualquer alternativa.
O líder supremo, o 'ayatollah' Ali Khamenei, é tradicionalmente o primeiro a votar, às 08h00 locais (04h30 em Lisboa), numa das 59.000 assembleias de voto localizadas principalmente em escolas e mesquitas do Irão.
Khamenei apelou esta quarta-feira aos iranianos para comparecerem em grande número para garantir que as eleições sejam "fortes e fervorosas", porque "é importante mostrar ao mundo que a nação está mobilizada".
"Os inimigos do Irão querem ver se o povo está presente", afirmou, citado pela agência francesa AFP.
Caso contrário, "ameaçarão a vossa segurança de uma forma ou de outra", acrescentou, dirigindo-se aos jovens iranianos que votam pela primeira vez.
Khamenei voltou a apontar os Estados Unidos, o Ocidente em geral e Israel como inimigos, especialmente no contexto da guerra em Gaza entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, apoiado pelo Irão.
Os especialistas esperam uma taxa de abstenção elevada, superior a 50%, segundo a AFP.
Nas legislativas de 2020, realizadas no início da crise da pandemia de covid-19, 42,57% dos eleitores compareceram às urnas, a taxa mais baixa desde a proclamação da República Islâmica em 1979, segundo dados oficiais.
"A atmosfera política continua gelada", era o título da primeira página do diário reformista Hammihan, na terça-feira, estabelecendo um paralelo com o clima invernal que mergulhou parte do país na neve e no frio nos últimos dias.
Em Teerão, onde 26% do eleitorado votou em 2020, o número de cartazes de candidatos foi inferior ao de eleições anteriores.
A capital foi um dos epicentros do vasto movimento de protesto que abalou o Irão após a morte, em setembro de 2022, de Mahsa Amini, uma jovem detida pela polícia por não respeitar o rigoroso código de vestuário do país.
O país vive também num ambiente de descontentamento crescente com o elevado custo de vida devido a uma taxa de inflação próxima dos 50%.
"Os bolsos das pessoas estão vazios e não creio que o próximo parlamento consiga inverter esta situação", disse Mohsen Omidbakhsh, um trabalhador de 40 anos entrevistado nos arredores do principal bazar de Teerão.
Os iranianos são chamados a eleger 290 membros do parlamento (Majlis) numa só volta para os próximos quatro anos.
O Conselho de Guardiães da Constituição aprovou um número recorde de 15.200 candidatos, mas mais de 30.000 foram desqualificados.
Os eleitores têm também de escolher os 88 membros da Assembleia de Peritos, um órgão constituído exclusivamente por clérigos e responsável pela nomeação e eventual destituição do Guia Supremo.
Concorrem 144 candidatos, mas algumas figuras notáveis foram desqualificadas, incluindo o antigo presidente moderado Hassan Rohani (2013-2021), que foi membro desta assembleia durante 24 anos.
Apesar disso, Rohani não apelou ao boicote do escrutínio, ao contrário dos opositores no exílio, que veem qualquer participação como um sinal de compromisso com o sistema.
A principal coligação de partidos reformistas, a Frente da Reforma, anunciou a recusa em participar em "eleições sem sentido".
Outra plataforma reformista apresentou candidatos em vários círculos eleitorais provinciais.
As eleições deverão confirmar a perda de influência do campo reformista e moderado, marginalizado pelos conservadores e ultraconservadores, que detêm todo o poder desde que Ebrahim Raissi foi eleito Presidente em 2021.
Os resultados permitirão avaliar o peso de cada uma das diferentes tendências do campo conservador, numa altura em que se aproxima a perspetiva da sucessão do líder supremo, que completa 85 anos em abril.