Parkinson. "Estamos a desenvolver uma molécula que irá prevenir que os neurónios degenerem"
11-04-2023 - 08:00
 • Fábio Monteiro

Ana Clara Cristóvão, CEO da NeuroSoV e investigadora da Universidade da Beira Interior, coordena uma equipa que está a desenvolver um fármaco para desacelerar os efeitos da doença de Parkinson. A expectativa é que em 2025 comecem já os ensaios clínicos com doentes.

Esta terça-feira comemora-se o Dia Mundial do Doente com Parkinson, uma patologia degenerativa e sem cura. Estima-se que cerca de 20 mil portugueses sofram desta doença.

Nos últimos anos, têm sido dados alguns passos na investigação às causas desta doença, e, ao poucos, têm vindo a aparecer alguns sinais de esperança. Alguns, inclusive, com origem em solo nacional.

Ana Clara Cristóvão, CEO da NeuroSoV e investigadora da Universidade da Beira Interior, coordena uma equipa que está a desenvolver um fármaco para desacelerar os efeitos da doença. A expectativa é que em 2025 comecem já os ensaios clínicos com doentes.

“Nós não estamos a desenvolver um medicamento para ajudar os doentes na sua sintomatologia. Estamos a desenvolver uma molécula que irá prevenir que os neurónios, que ainda estão funcionais à data do diagnóstico da doença, degenerem, permaneçam funcionais”, explica à Renascença.

Até à data, a investigação tem sido feita com recurso a animais portadores da patologia. “Eles desenvolvem a disfunção motora típica da doença de uma forma muito mais lenta”, nota.

Ana Clara Cristóvão investiga as origens da doença de Parkinson desde 2006.

“Há muito estigma dentro dos doentes de Parkinson. Só agora começam a querer levantar o véu e dizer: ‘Eu não me importo de falar.’ Lá está, tem-se falado um bocadinho mais e temos que falar ainda mais porque realmente são doentes sem soluções”, diz.

Em busca de soluções e tratamentos, há doentes que chegam a contactar a investigadora da UBI por iniciativa própria. E alguns oferecem-se mesmo para participar nos ensaios clínicos. Segundo Ana Clara Cristóvão, lidar com este tipo de pacientes é uma grande “responsabilidade”.

“Falar com um doente que deposita em nós todas as suas expectativas e depois mostrar-lhe que ainda há um caminho árduo pela frente foi difícil. Mas foi também extraordinariamente gratificante perceber que eles nos compreendem. Dizerem que: ‘É bom saber o que estão a fazer, dá-nos esperança e isso muda tudo.’”, conta.