Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, sugere, em declarações à Renascença que, caso as condições mantenham "dramáticas", em alguns locais, pode vir a ser necessária a adoção de medidas mais proibitivas.
O ambientalista referiu que, apesar de concordar com a posição do ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro - que afasta, para já, a adoção de medidas proibitivas relativamente ao consumo de água -, são necessárias medidas de prevenção "mais extensas" do que aquelas que estão em vigor nas áreas afetadas.
"Se as condições se mantiverem de forma dramática em alguns locais, poderemos ter de lá chegar", sugere Francisco Ferreira sobre a adoção de medidas proibitivas.
O presidente da associação ambientalista explica que é preciso uma "maior monitorização dos municípios" que poderão vir a estar em risco de abastecimento de água.
"[É preciso] implementar medidas que podem não ser tão restritivas, mas que podem ajudar a prevenir o problema", apela Francisco Ferreira. "Por exemplo, a rega de espaços verdes começar a ser já mais limitada", continua.
Segundo refere ainda o presidente da Zero, faltam "medidas estruturais" para garantir um uso mais eficiente da água.
Francisco Ferreira, falou também da "situação dramática" que vivemos no sul do país. "É essa diferença que nos deve levar a medidas e alertas diferentes para os diversos locais de Portugal", explica.
Ministro do Ambiente afasta limitações ao consumo privado de água
Duarte Cordeiro, quando questionado pelos jornalistas sobre a adoção de medidas proibitivas relativamente ao consumo de água, afastou a hipótese.
"Não vale a pena estarmos a introduzir uma cultura de proibição quando ela, neste momento, ainda não é necessária. Quando ela é necessária, nós não hesitamos, como aconteceu quando limitámos, por exemplo, em determinadas barragens da zona Monte da Rocha", defendou.
"Já foram tomadas algumas medidas excecionais", disse, após ter sido convocada uma comissão interministerial de seca "no final do mês de abril" referiu Duarte Cordeiro aos jornalistas.
Segundo o ministro, nessa reunião foram identificadas as zonas mais críticas: a do Barlavento algarvio e a zona do litoral alentejano, "nomeadamente a zona do [rio] Mira, associada à barragem de Santa Clara".
"Há restrições que nós aplicámos relativamente a um conjunto de barragens, quer no Alentejo quer na zona do Barlavento, e há restrições de novas culturas para a zona do Mira, porque neste momento temos que captar a água a uma cota abaixo daquilo que é a cota a que habitualmente vamos buscar água", explicou, referindo-se à medida tomada pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
Duarte Cordeiro relembrou ainda que atualmente, "na generalidade do país, neste momento, o país tem mais água disponível do que tinha no ano passado", com um nível médio de 80% de água nas albufeiras.
"Neste momento temos uma situação assimétrica, nalgumas zonas do país não antecipamos que tenhamos, neste momento, um problema de abastecimento de água. Temos duas zonas do país, litoral alentejano e a zona do Barlavento, em que tivemos que aplicar medidas para gerir de forma racional os recursos que temos disponíveis", disse o ministro.
A situação de seca meteorológica agravou-se em Portugal continental no mês de abril, estando 89% do território continental em seca, 34% da qual em seca severa e extrema, segundo o IPMA.
Na segunda-feira, a ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, informou ter assinado o despacho que reconhece a situação de seca em 40% do território nacional, no sul do país.
Em França, a venda de piscinas de jardim já está a ser proibida numa região do sul, devido ao agravamento da escassez de água.
O ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, disse, à rádio RTL, que os Pirenéus Orientais, que fazem fronteira com a Catalunha espanhola, estão oficialmente em situação de "crise" de seca a partir de 10 de Maio. "A proibição de lavar os carros, regar os jardins e encher as piscinas será igualmente aplicada a partir da mesma data", acrescentou.