Cristina acompanha a mãe às urgências do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho (CHVNGE).
Passadas três horas, a utente ainda não fez o raio-x necessário ao diagnóstico do seu estado de saúde.
A impaciência vai crescendo e Cristina acaba mesmo por explodir em plena sala de espera.
“Tiraram-na daquela sala e deixaram-na aqui”, reclama caminhando na direção de Henrique Araújo.
O auxiliar de ação médica está habituado a estas situações, pois trabalha no serviço de urgências há oito anos.
“Faz parte do nosso dia-a-dia gerir conflitos”
A discussão provocou mesmo a intervenção do segurança e o afastamento temporário de Cristina do interior do hospital. "Foi para me acalmar", admitiu mais tarde.
Ocorrências deste tipo são habituais nesta unidade hospitalar. “Faz parte do nosso dia-a-dia gerir conflitos”, refere Henrique Araújo.
“O serviço de urgência já por si acarreta muito tempo de espera e as pessoas não compreendem porque os procedimentos demoram tanto tempo."
No entanto, isso não quer dizer que as práticas adotadas no hospital não cumpram todos os requisitos previstos.
“Uma coisa é a nossa visão como acompanhantes e como doentes. Outra coisa é a nossa visão como profissionais que trabalham aqui todos os dias”, sublinha o profissional.
Isto parece “um caos, uma selva, mas para nós que trabalhamos aqui é um caos organizado”.
“É minimizado o impacto sobre o doente”
Nos últimos meses, tem-se assistido a uma crescente conflitualidade no Sistema Nacional de Saúde, envolvendo os profissionais e a tutela.
Foram realizadas diversas greves e a falta de recursos humanos tem obrigado ao fecho de alguns serviços.
O médico Ricardo Fernandes, que é um dos chefes da urgência, não tem dúvidas que as divergências com o ministério da Saúde ainda persistem, apesar do acordo parcial alcançado com o Sindicato Independente dos Médicos, no final de novembro.
“Andamos aqui a fazer rotundas, sem nenhuma decisão definitiva”, declara.
Apesar destes constrangimentos, a resposta aos utentes está a ser assegurada, garante o chefe do serviço de urgência de enfermagem, Adelino Pinto.
“Todas as tomadas de decisão” são feitas para garantir que “é minimizado o impacto sobre o doente”.
No entanto, a solução para o estado do Sistema Nacional de Saúde (SNS) passa por reorganizar do sistema de saúde no seu conjunto.
O objetivo é construir “um SNS que seja um bocadinho melhor”, afirma Ricardo Fernandes.
“Não no sentido da rutura e de um desvio para as estruturas privadas, mas, se calhar, de sustentar aquilo que já existe”.
“A afluência aos serviços de urgência tem vindo a aumentar”
Uma das prioridades será resolver o problema do congestionamento das urgências. Isso passa por encaminhar os doentes ligeiros para a rede de cuidados de saúde primários, em particular os centros de saúde, conforme já foi decidido pelo ministério da saúde.
Para já, uma nova diretiva vai estar em consulta pública durante 30 dias. As novas regras podem ser úteis para a melhoria de funcionamento do CHVNGE no imediato.
O hospital serve um território com cerca de 344 mil habitantes e “a afluência aos serviços de urgência tem vindo a aumentar”, confirma Ricardo Fernandes.
Porém, são as urgências que inspiram menores cuidados aquelas que estão a crescer.
No caso concreto do hospital de Gaia-Espinho, e comparando dados de outubro de 2022 e 2023, uma consulta ao portal da transparência do SNS dá indicação que o número de urgências mais graves estabilizou (no caso das pulseiras vermelhas) ou que até diminuiu (no caso das pulseiras laranjas).
São as pulseiras de menor prioridade (amarelas, verdes e azuis) aquelas que cresceram em termos homólogos (entre 10 a 15%). Os valores apurados pela Renascença são confirmados pelo hospital.