O presidente do PSD, Rui Rio, defendeu esta segunda-feira que “quem faz batota e não cumpre as regras éticas” só leva vantagem no curto prazo, considerando que “o tempo é um aliado” de quem é eticamente correto.
Numa iniciativa online organizada pela JSD de Lamego sobre "Importância da ética na política e no exercício da vida pública", Rio elencou sete princípios éticos que considera deverem nortear não só a política, como a vida, e admitiu ser difícil “resistir na vida pública” quando se tenta seguir estes princípios.
“É obviamente muito, muito difícil resistir na vida pública, quando em cada canto, em cada esquina, estamos confrontados com violações de ordem ética, seja dentro do partido, seja fora do partido, seja até por instituições. É preciso ter uma capacidade de resistência muito grande, eu essa capacidade tenho, sempre tive ao longo da vida”, disse.
No entanto, Rio acrescentou que a pergunta é, muitas vezes, se “vale a pena resistir quando a maior probabilidade é não vencer”, salvaguardando não estar a referir-se a eleições, e deu a resposta.
“A probabilidade de sucesso é menor, mas não é zero (…) Resistir na política perante estas circunstâncias é ir buscar o combustível acreditando que chegando ao poder consegue-se melhorar muita coisa e influenciar através do exemplo”, disse, mas acrescentando que “está tudo montado para que todas as árvores sejam iguais no comum da floresta”.
Para o líder do PSD, a resposta pode estar na persistência: “Quem faz batota e não cumpre as regras leva sempre vantagem, seja na vida política, seja num jogo. Mas leva vantagem no curto prazo, leva desvantagem no longo prazo”, defendeu.
“O tempo é um aliado do ser humano que é eticamente correto”, considerou.
Rio admitiu estar prestes bater ou até já ter batido o recorde de “presidente do PSD que esteve mais tempo como líder da oposição”.
“E mesmo no PS não sei se houve alguém que esteve tanto tempo à espera. Mas há um recorde que não vou ter: mesmo que chegue a primeiro-ministro, dificilmente baterei o recorde do professor Cavaco Silva que esteve dez anos, hoje é muito difícil ser primeiro-ministro durante dez anos. Por isso é que o dr. António Costa já está meio de saída, ao fim de seis ou sete”, disse, em tom bem-disposto.
Aos jovens da JSD de Lamego, Rio deixou sete regras éticas que devem estar presentes na “sã convivência” com os outros e que podem gerar “uma sociedade mais propiciadora da felicidade”.
“A primeira é ser verdadeiro, respeitar sempre a verdade e não mentir. Por exemplo, vamos ter autárquicas: quando faço um programa, não posso prometer aquilo que sei de antemão que não posso cumprir”, exemplificou.
Ser coerente e agir sempre em função das suas convicções - mesmo que possam evoluir ao longo dos anos -, ser leal, ser grato, ser correto com os adversários (“não atropelar para conseguir chegar onde quero, não deturpar o que o outro disse”), ser sério e rejeitar a hipocrisia e, finalmente, “cumprir a palavra dada” foram as restantes linhas éticas recomendadas por Rui Rio.
“Alguém que fizesse sempre tudo isto era bastante irrepreensível e quase que não era humano, uma falha aqui ou acolá temos de aceitar a toda a gente porque somos todos humanos, coisa diferente é não cumprir de todo estas regras ou nem ter a preocupação de as cumprir”, defendeu.
Questionado por um dos jovens, numa iniciativa que se estendeu por cerca de hora e meia, se a política era incompatível com a ética, Rio respondeu negativamente, embora admitindo que possa ser um campo onde é “mais difícil” não pisar a linha.
“Na política, há sempre uma permanente competição, seja com os nossos adversários de outros partidos, seja dentro do partido. Como estamos sempre em dificuldades, tendemos muitas vezes em pisar linhas, a política não é incompatível com a ética, mas põe-nos mais à prova do que outros setores da vida em comum”, afirmou, dizendo que é nesses momentos difíceis que se vê “a fibra de cada um”.