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- D. José Ornelas. Um missionário em Setúbal
- Bairro da Jamaica. Bispo de Setúbal critica “aproveitamento mediático”
- “Não há verdadeiro compromisso religioso sem partilhar o pão”, diz D. José Ornelas
- Abuso sexual de menores. Igreja está em “processo de purificação”
O bispo de Setúbal, D. José Ornelas, é o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
A decisão foi tomada na assembleia plenária dos bispos portugueses, que está reunida desde segunda-feira.
D. José Ornelas foi eleito pelos seus pares para um mandato de três anos, até 2023. Até agora era vogal do conselho permanente da CEP.
Vai suceder a D. Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa, que ocupou a presidência da Conferência Episcopal Portuguesa nos últimos sete anos, atingindo o limite de dois mandatos.
Como vice-presidente da Conferência Episcopal foi eleito D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, que era vogal do conselho permanente da CEP no último mandato e está à frente da Diocese Coimbra desde 2011.
Como vogais, foram eleitos D. Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa; D. Manuel Linda, bispo do Porto; D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda; D. Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora; e o cardeal D. António Marto, bispo da diocese de Leiria-Fátima.
Nestas eleições foram também designados os responsáveis pelas comissões episcopais. D. António Moiteiro fica com a da Educação Cristã e Doutrina da fé, D, José Traquina com a da Pastoral Social e Mobilidade Humana, D. Joaquim Mendes com o Laicado e Família, D. António Augusto Azevedo com a Pastoral das Vocações e Ministérios, D. João Lavrador com a da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Anacleto Oliveira com a da Liturgia e Espiritualidade e D. Armando Esteves com a da Missão e Nova Evangelização.
O padre Manuel Barbosa foi reconduzido no cargo de porta-voz da CEP.
A assembleia plenária estava inicialmente marcada para abril, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19.
Quem é o novo presidente da CEP, um missionário em Setúbal
O novo presidente da CEP tem 66 anos e é natural de Porto da Cruz, na Madeira.
Está à frente dos destinos da Diocese de Setúbal desde agosto de 2015, ano em que foi ordenado bispo.
Foi missionário e desempenhou as funções de responsável mundial pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos).
Ordenado padre na sua terra natal, a 9 de agosto de 1981, é especialista em Ciências Bíblicas, com o grau de doutor em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, onde deu aulas até 2003.
D. José Ornelas tem acompanhado de perto os problemas sociais na Diocese de Setúbal e, mais recentemente, uniu-se às vozes que condenam “o racismo, a injustiça e a exclusão”, sublinhando que estas não têm lugar na Igreja Católica.
D. José Ornelas preparava-se para partir para Angola quando recebeu o convite do Papa para ser bispo de Setúbal, disse à Renascença numa entrevista em dezembro de 2015. Apesar da resistência diz que “nunca disse que não a uma solicitação de serviço que me foi pedida e não vou começar a dizê-la ao Papa”.
O Papa Francisco fez na altura um pedido especial a D. José Ornelas: “ele disse-me: ‘mas vais como missionário porque senão não vale a pena’”. E o Papa acrescentou: “a Igreja da Europa tem muita necessidade de voltar a redescobrir-se como missionária no seu próprio território”, contou o bispo na altura à Renascença.
Mais recentemente, na missa de Páscoa deste ano, o novo presidente da CEP pediu a todos que aprendam com as “lições” da pandemia, construindo um mundo novo, sem o “vírus do egoísmo”.
“É importante que não esqueçamos as lições desta crise, à luz da lógica da ressurreição”, declarou D. José Ornelas, numa celebração com transmissão online. "Desejo a que todos chegue a vitória do Senhor ressuscitado”, disse D. José, numa homilia emocionada.
“É com este espírito que se vencerá também a pandemia que estamos a sofrer”, com a colaboração de todos, assinalou.
Ainda antes da chegada da Covid-19 a Portugal, o bispo de Setúbal anunciou em fevereiro deste ano o reforço do Fundo Diocesano de Emergência Social, para fazer face aos problemas económicos e sociais na diocese. “Não há verdadeiro compromisso religioso sem esse partilhar o pão que mata a fome à mesa”, disse D. José Ornelas.
Sobre os incidentes do ano passado no Bairro da Jamaica, no Seixal, D. José Ornelas criticou o que apelidou de "aproveitamento mediático" dos confrontos entre polícia e moradores.
"Chega-se como se estivéssemos numa guerra civil, e não tem nada disso. Houve um incidente deplorável, mas deixem as entidades competentes investigarem essas coisas. O empolamento disto, que também houve no bairro da Belavista, onde se queimaram algumas coisas. Sei que uma parte, pelo menos, das pessoas que intervieram nisso não eram sequer dali, mas depois as televisões assentaram arraiais à frente da esquadra da polícia, como se estivessem esperando um assédio, ou uma emergência nacional", disse em entrevista à Renascença.
"As pessoas de lá, tanto na Jamaica como na Boavista, sentem-se altamente incomodadas por esse assédio. Depois vão entrevistar as pessoas, e aparecem sempre aqueles ‘carapaus de corrida’, que gostam de dar voz, e que fazem daquilo um cenário que vai muito para além da realidade das coisas. Como vivemos numa época mediática, aquilo que passa na televisão é que é a verdade, e tantas vezes foi altamente empolado. Temos problemas? Temos, mas não é propriamente...", sublinhou.
Sobre o problema dos abusos sexuais na Igreja, D. José Ornelas disse em entrevista ao programa "Hora da Verdade, da Renascença e agência Ecclesia, em fevereiro do ano passado, que a Igreja Católica está "em processo de purificação", numa questão em que já há “tolerância zero”.