A ministra da Saúde tomou nota da oferta, mas diz que a greve dos enfermeiros não pode servir para promover o setor privado. É assim que Marta Temido responde à disponibilidade manifestada pelos hospitais privados para fazerem as cirurgias que têm sido adiados por causa da greve dos enfermeiros.
“Este tipo de movimento, que tem por objetivo a defesa de reivindicações dos trabalhadores, não pode dar azo a algo relativamente ao qual certamente todos temos algumas reservas que é a questão de reforçar o setor privado, que tem o seu espaço próprio, em detrimento de uma fragilidade aparente, criada, do serviço público”, afirmou a ministra, esta terça-feira, aos jornalistas.
São já mais de cinco mil as cirurgias adiadas desde o dia 22 de novembro, em Lisboa, Porto, Coimbra e Setúbal.
“Há várias áreas que nos preocupam. A da cirurgia vascular é uma área que nos preocupa bastante, a área da pediatria pelo seu impacto naquilo que é a nossa natural sensibilidade também nos preocupa, a área dos doentes daquilo que designamos como urgências de feridas – os doentes com fraturas da área da ortopedia”, começa por enumerar.
“Eu diria que não é possível fazer uma lista de prioridades daquilo que nos preocupa, porque nos preocupam todos os doentes que estão no Serviço Nacional de Saúde e que estão a ser afetados por esta greve”, conclui.
Ministra pede a Ordens que contenham "excesso verbal"
À margem da sessão de encerramento das comemorações dos 20 anos da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Marta Temido pediu às ordens profissionais para conterem algum "excesso verbal" sobre a greve dos enfermeiros.
"Às vezes, na forma como as pessoas se exprimem, há um excesso verbal que pode transparecer uma sensação de insegurança que poderá não ser real e que muitas vezes se destina até a causar uma sensação de efeito que certamente não é aquele que as pessoas pretendem, porque ultrapassa aquilo que é o objetivo de uma greve", afirmou.
A ministra da Saúde comentava assim as declarações dos bastonários da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, e da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que admitiram a possibilidade de doentes poderem morrer na sequência da greve cirúrgica dos enfermeiros.
O objetivo de uma greve "é a defesa de direitos dos trabalhadores relativamente aos quais poderemos não estar exatamente de acordo sobre a forma de os repor, de os alargar, mas há sobretudo uma serenidade que eu acho que se impõe", defendeu a ministra.
Marta Temido disse ainda que quer acreditar que, neste momento, com esta "situação bastante preocupante" que o país tem "em mãos, todos os atores fazem aquilo que é a sua função e cumprem aquilo que são as suas responsabilidades".
"Às ordens profissionais, às associações públicas profissionais, incubem antes de mais nada salvaguardar os direitos dos utentes e, portanto, tenho a certeza de que se estiverem em causa riscos deontológicos – e em termos deontológicos a primeira obrigação de um profissional de saúde é sempre o seu doente - as ordens profissionais garantirão que os doentes não são colocados em risco", vincou.
A ministra da Saúde sublinhou ainda que "o Ministério da Saúde não está impávido e sereno" relativamente a esta greve.
"Está sereno, mas não está impávido, está a trabalhar com quem no terreno resolve os problemas que são os hospitais e os seus conselhos de administração e tenho a certeza de que as ordens profissionais estão a fazer tudo o que lhes compete para fazer isso mesmo", salientou.
A “greve cirúrgica” dos enfermeiros começou no dia 22 de novembro e termina em 31 de dezembro. Está a decorrer nos blocos operatórios do Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), no Centro Hospitalar Universitário do Porto, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e no Centro Hospitalar de Setúbal.
Os enfermeiros têm apresentado queixas constantes sobre a falta de valorização da sua profissão e sobre as dificuldades das condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde, pretendendo uma carreira, progressões que não têm há 13 anos, bem como a consagração da categoria de enfermeiro especialista.
A paralisação foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), embora inicialmente o protesto tenha partido de um movimento de enfermeiros que lançou um fundo aberto ao público que recolheu mais de 360 mil euros para compensar os colegas que aderissem à paralisação.