A brutal subida dos preços dos combustíveis tem sido considerada uma crise conjuntural, passageira. Mas é difícil manter esta visão optimista quando se torna patente que a crise energética se faz sentir em praticamente todo o mundo, da Europa à Ásia, passando pelas Américas. Não é uma mera crise local.
Além disso, importa ter em conta que esta crise coincide com interrupções e quebras no transporte e no abastecimento de inúmeros bens - desde os micro “chips” necessários ao fabrico de automóveis até aos atrasos no fornecimento de artigos para venda na época natalícia, passando pelos cerca de cem navios que aguardam desembarque em portos como o de Los Angeles e outros.
Na energia - petróleo, gás, carvão - o problema de fundo está na transição para fontes energéticas não poluentes. As alterações climáticas têm-se feito sentir frequentemente de maneira trágica, como aconteceu nas inundações na Alemanha ou nos gigantescos incêndios florestais na Califórnia. Gerou-se a convicção de que é mesmo imperativo o abandono dos combustíveis fósseis.
Compreende-se, assim, que tenha quase estagnado o investimento na prospecção e pesquisa de petróleo e gás. Também estagnou o indispensável investimento de manutenção em campos petrolíferos e poços de gás já existentes. Quem irá meter dinheiro na produção de petróleo, se daqui a uma ou duas décadas um tal investimento, que não é barato, não terá retorno?
Perante uma procura que cresce, uma vez superada a pior fase da pandemia da covid 19, depara-se uma oferta em baixa - logo, sobem os preços. Acontece também no carvão.
O carvão é uma fonte energética quase inesgotável, mas gera assustadores níveis de poluição. Em muitas cidades chinesas esses níveis já afetam a saúde das populações. Daí que o governo chinês tenha limitado as licenças para novas minas de carvão.
Só que a escassez de carvão na China levou a quebras na produção de eletricidade. Por isso o governo chinês recuou, permitindo um aumento de 6% na produção de carvão. São más notícias para o ambiente, mas os cortes de energia eram um mal pior. O que se passa na China passa-se em muitos outros países asiáticos, nomeadamente na Índia.
O gás natural, menos poluente do que o petróleo e o carvão, tem agora forte procura. Mas a Europa depende da Rússia em cerca de 40% do seu abastecimento de gás, dependência que será reforçada com o gasoduto Nord Stream 2, que vai diretamente de território russo para a Alemanha. Sendo que Merkel, assustada com o desastre de Fukushima, programara o abandono pela Alemanha do recurso a centrais nucleares.
Em síntese, o mercado mundial da energia atravessa problemas complicados que não irão desaparecer tão cedo. A prioridade dos governos deverá ser evitar que o encarecimento dos combustíveis paralise a atividade económica. Não é uma tarefa fácil nem barata.