Oito anos depois da Laudato Si, uma encíclica sobre o cuidado com o meio ambiente, o Papa Francisco publicou há dias uma exortação apostólica sobre a mesma matéria. Porquê a insistência? Porque não estamos a fazer o suficiente para lutar contra as alterações climáticas. Ora “este mundo que nos acolhe está a esboroar-se e talvez a aproximar-se de um ponto de rutura”.
Recorda o Papa que, sempre que a temperatura global sobe 0,5 graus, “aumentam também a intensidade e a frequência de fortes chuvadas e inundações nalgumas áreas, graves secas noutras”. A nossa experiência em Portugal já o mostra claramente. E a televisão apresenta-nos sérios desastres ambientais na Europa, na América do Norte e do Sul, na China...
Tudo tende a piorar. Se a temperatura subir mais de dois graus, “as calotas glaciares da Gronelândia e de grande parte da Antártida derreter-se-ão completamente, com consequências enormes e muito graves para todos”. No entanto, os políticos parecem insensíveis ao problema e vão adiando respostas sérias.
O Papa Francisco aborda as pretensas teorias científicas avançadas pelos negacionistas e céticos, cujas opiniões pouco racionais encontra “mesmo dentro da Igreja Católica”. Considerando o total das emissões de gases com efeito de estufa desde 1850, “mais de 40% ocorreram depois de 1990”. São números terríveis.
O Papa espera que a próxima cimeira do clima, marcada para o Dubai no final de novembro, “se torne histórica, que nos honre e enobreça enquanto seres humanos”. Como? Chegando a fórmulas de transição energética “que sejam eficientes, vinculativas e facilmente monitorizáveis”. Desgraçadamente, as cimeiras anteriores deixaram sobretudo frustração.
O chamado “paradigma tecnocrático” é um perigo a evitar. O Papa Francisco declara que esse paradigma é uma forma de pensar como se “a realidade, o bem e a verdade desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia”. Esta é uma ilusão que muito tem contribuído para a passividade no ataque ao aquecimento global e às alterações climáticas.
Como a Renascença destacou, o Papa Francisco referiu-se ainda às ações de grupos ditos “radicalizados”, chamando a atenção para que esses grupos "preenchem um vazio da sociedade inteira, que deveria exercer uma sã pressão, pois cabe a cada família pensar que está em jogo o futuro dos seus filhos".