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A eurodeputada Ana Gomes, que se tem mobilizado em torno da causa do acolhimento de refugiados na Europa, reage com indignação à acusação de discriminação feita pelo executivo grego a Portugal.
“É completamente absurda e a prova está em que Portugal tem recebido refugiados de qualquer etnia, religião ou proveniência, muitos deles vindos da Grécia”, começa por dizer à Renascença.
Ana Gomes explica que “a acusação não é nova”, uma vez que, em Setembro, o ministro grego responsável pela questão dos refugiados, Ioannis Mouzalas, já a tinha lançado numa carta dirigida à eurodeputada portuguesa e ao eurodeputado Josef Weidenholzer, que colabora com Ana Gomes “na questão dos yazidis”.
Nessa carta, Mouzalas sustentava que “se tivesse de dar prioridade aos yazidis, estaria a violar a directiva europeia que diz que não pode haver discriminação. No entanto, se obtivéssemos uma interpretação diferente do Parlamento Europeu, ele consideraria”.
“Nós respondemos-lhe 15 dias depois com uma carta assinada por nós e pelo presidente da comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos – a comissão do Parlamento Europeu que tem a competência nestas matérias – a dizer que não haveria qualquer discriminação e que, pelo contrário, se aplicaria claramente a directiva, que prevê num dos artigos a situação de pessoas vulneráveis, com especiais necessidades, a quem deve ser dada prioridade”, conta ainda Ana Gomes.
A eurodeputada conclui, assim, que a mais recente acusação de discriminação é o culminar das reservas que o Governo grego tem vindo a manifestar nesta matéria, ao ponto de ter motivado a intervenção do Parlamento Europeu.
Promete, por isso, “pôr cá fora hoje a troca de cartas que tivemos com o ministro Mouzalas em Setembro e Outubro e onde ele utiliza esse argumento da discriminação e onde esse argumento lhe é claramente refutado”.
“Isto não faz nenhum sentido”, sublinha Ana Gomes, “porque Portugal não pediu refugiados yazidis; Portugal está disponível para receber refugiados e disse que estaria aberto a receber yazidis, porque estava a ser solicitado para isso por dois deputados do Parlamento Europeu, um deles eu”.
No entender da eurodeputada, “se a Grécia quer, de facto, fazer deslocar refugiados para outros países, tem de começar por algum lado”.
A comunidade yazidi chegava a “cerca de 1.700” pessoas no Norte da Grécia, “divididos em dois campos” e, em Setembro, “já cerca de 600 pessoas tinham indicado Portugal como um país onde poderiam ser recolocadas”.
“Porque é que nessa altura nem um processo tinha sido submetido a Portugal?”, questiona.
A notícia da posição grega face à disponibilidade de Portugal para receber estes refugiados surgiu na terça-feira à noite pela agência Associated Press, segundo a qual o Governo grego não aceita o pedido português para receber refugiados yazidi (minoria especialmente perseguida no Iraque e na Síria pelo autoproclamado Estado Islâmico) por considerar que a oferta é injusta para os refugiados de outras etnias.