Antes de partilharem alguma coisa interrogue-se se é verdade, apela o responsável pela comunicação do Vaticano em entrevista à Renascença na Web Summit, em Lisboa.
O monsenhor Paul Tighe defende uma mudança na cultura da internet e defende que essa alteração está nas mãos dos utilizadores.
O responsável do Vaticano sublinha a importância da presença da Igreja nas redes sociais, não para evangelizar, mas para conversar.
É um dos conselheiros do Papa para a comunicação no universo web. Foi um dos responsáveis da conta twitter @Pontifex, que faz hoje do Papa um dos líderes mais influentes na internet.
Habitual participante da Web Summit, o monsenhor Paul Tighe integrou este ano um painel dedicado ao tema “Será que partilhar é cuidar?” (Is sharing, caring?”).
Será que partilhar informações, ajuda mesmo as pessoas, se não, o que é preciso fazer?
No painel, houve quem defendesse a necessidade de alterar a regulamentação para ver como os media transmitem a informação da maneira mais correta. E isso é importante. Mas o que eu tentei dizer foi apelar a todos, aos crentes e a todos os de boa vontade envolvidos nas redes sociais, que assumam maior responsabilidade nas opções que fazem.
Que tipo de responsabilidade?
Parem antes de reagir. Pensem um pouco mais, antes de se precipitarem numa resposta. Antes de partilhar alguma coisa, interroguem-se se é verdade. Posso confiar, ou não? Antes de responder a alguém, devo pensar: será que isto vai ajudar a construir uma boa ponte de comunicação, ou vai apenas reforçar a divisão? O que pretendo e o que a Igreja sempre defende é reforçar o papel de cada indivíduo nas suas opções mais acertadas para, assim, ajudar a mudar este rumo. A cultura da internet é gerada pelos utilizadores. Se os usarmos bem, se nos comprometermos de forma positiva, podemos mudar esta cultura.
Mas a tendência é para o aumento do individualismo. Não acha que as redes sociais o agravam?
Sim e não. Penso que o mundo da internet ajuda positivamente a tomar consciência do sentido e do grande potencial que é a família humana. Temos acesso direto ao que se passa no mundo e conhecer o sofrimento das pessoas em diversas partes do mundo e se formos atentos, poderemos construir o sentido de unidade entre a humanidade. Claro que também há individualismo, mas isso não é só “online”, existe também “offline”.
Não está preocupado com isso?
Claro que sim, mas temos de ter cuidado em não acusar a web e a cultura digital por tudo e por nada. Temos é de valorizar o seu potencial e encorajar as pessoas de boa vontade para estarem presentes de modo positivo, e assim poderem mudar o ambiente.
Desde sempre a Igreja quis marcar presença na vanguarda da comunicação e primeira linha da tecnologia. Como é que se aprofunda a fé nestes ambientes?
A igreja tem de estar presente nestes meios, mas não necessariamente para evangelizar. Estamos lá para conversar. Tal como diz claramente o Papa Francisco sobre as redes sociais, os católicos devem, acima de tudo, ouvir e tentar entender os dilemas e dificuldades das pessoas quando comunicam. Numa segunda fase, se possível, avançar mais e aprofundar essa conversa. E, por fim, deixar uma palavra de encorajamento. Creio que o melhor encorajamento que podemos dar, sem bombardear nem manipular ninguém, é partilhar a fonte da nossa alegria e da nossa esperança que é o dom da fé. Conseguir falar disso, já é positivo.
Podemos dizer que é “o pai” do Twitter @Pontifex…
… (risos) Não, não. Fui apenas um dos membros da vasta equipa que inclui pessoas muito diferentes.
E que é um grande sucesso.
É um sucesso numa dupla perspetiva: globalmente, há um grande número de pessoas que recebem a mensagem e isso é bom. E, quando se partilha o tweet do Papa, há um número ainda maior de pessoas que recebem as suas palavras e claro que isso é positivo. Mas também penso que, no seio da Igreja, se virem que o Papa está envolvido nas redes sociais, pode ser que se envolvam de igual modo. Serve de testemunho.
O Papa Francisco deu-lhe algum conselho especial?
O Papa Francisco foi sempre claro e não pretende ser especialista. O que ele diz é: "Este é um fórum importante e a Igreja deve estar bem presente sem perder, no entanto, o seu sentido crítico".