Nos últimos dias viveu-se “o caos” em Damasco, diz à Renascença frei Firas Lutfi, guardião da comunidade franciscana na capital síria. “As pessoas estão com medo. Não conseguimos dormir a noite toda”.
O pároco dos católicos latinos em Damasco admite que a minoria cristã receia pelo futuro e que há muito medo face à incerteza que se vive no país.
“Os cristãos estão preocupados com o seu futuro. Precisam de ser confortados, não só com palavras mas com atos, que lhes garantam a sua segurança e das suas casas, e uma atmosfera de liberdade para todos, em especial para os jovens e para as raparigas”, sublinha frei Lutfi.
A agitação dos últimos dias, com a progressão dos rebeldes até Damasco e a queda de Bashar al-Assad, não permitiu celebrar a missa dominical e a igreja permanece encerrada.
“Infelizmente não celebrámos a Missa em público, no domingo. Na igreja estava só eu e os meus irmãos frades. Aguardo que seja possível abrir a igreja e chamar todos para se juntarem na celebração da eucaristia. Mas, por agora não. Nem sabemos ao certo quem ficou no bairro, nem quem está com o exército, para evitar problemas maiores”, conta.
Natural da Síria, o franciscano espera que quem tomou o poder cumpra as promessas de estabilidade e de respeito das minorias, mas há algumas dúvidas de que tal venha a acontecer.
“O nosso receio é que os militares não cumpram o que disseram, de que vão respeitar as pessoas, em especial a minoria cristã e que têm um plano político para governar a Síria e tomar conta das coisas”, afirma.
E deixa um apelo, para que não se abandone os cristãos sírios. “A minha esperança é que a comunidade internacional esteja ao lado deles e ajude (quem tomou o poder) a manter as promessas, conduzindo a Síria no bom caminho da segurança e da estabilidade", sublinha.
Frei Lutfi admite que o contexto já é mais favorável. “A situação está agora mais calma, mas temos de ter a certeza de que as coisas estão a ir pelo o caminho certo”.
Nestas declarações feitas a partir de Damasco - cidade conquistada este domingo pelos rebeldes , que puseram fim a mais de 50 anos da ditadura de Bashar al-Assad -, frei Lutfi lembra ainda que a economia da Síria está paralisada, depois de quase 14 anos de guerra.
“O país está em ruínas, tal como a economia. É dificil sobretudo para os mais pobres. Por isso, a minha esperança, como sírio e como franciscano, é que a comunidade internacional tenha presente e não se esqueça deste belo país, que é um mosaico cultural e religioso. Que tenhamos paz e prosperidade, é o que desejo”.
E, agradecendo o contacto da Renascença, lembra: “o nosso povo precisa de tudo. De seguranca, em primeiro lugar, mas toda a ajuda é bem vinda. Obrigada por se interessarem pelo povo sírio e em particular pelos cristãos”.
O franciscano espera que a revolta não dê lugar a um novo regime ditatorial, mas que ajude o país a prosperar. "Como o povo sírio merece", conclui.