Hepatite: Portugal no caminho da eliminação da doença
27-07-2022 - 23:26
 • Anabela Góis

De acordo com o relatório da DGS hoje divulgado, a taxa de cura da hepatite C mantém-se acima de 95%, superando 99% na população em reclusão.

As hepatites são a 4ª causa de morte em Portugal. No entanto, atualmente há menos casos de Hepatite B e C e menos doentes internados. Isso significa que temos situações menos graves destas doenças.

De acordo com o mais recente relatório da Direção Geral da Saúde, nos últimos cinco anos houve uma redução de casos de Hepatite C entre doentes que fazem diálise − se em 2016 houve 197 casos, em 2020 foram apenas 43 - mas também nas prisões e entre os utilizadores de drogas injetáveis, embora neste grupo a incidência ainda seja muito alta, à volta dos 80%.

Rui Tato Marinho, diretor do programa nacional para as hepatites virais, diz que Portugal está “a caminho da micro eliminação, da Hepatite C no contexto da diálise”.

O número de casos de hepatite ativa em diálise tem vindo a reduzir. Outro dado positivo, é que a Hepatite C em contexto prisional também está a descrescer.

De acordo com o relatório da DGS hoje divulgado, a taxa de cura da hepatite C mantém-se acima de 95%, superando 99% na população em reclusão.

Tato Marinho sublinha, também, que o “número de casos em contexto de consumo de drogas injetáveis - dados do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências - mostram que o número de casos com hepatite C também caiu. E uma coisa que temos visto no terreno é que quando fazemos análises há 100 pessoas com teste positivo à Hepatite C, a percentagem de que tem o vírus ativo - que é o que interessa - é muito inferior ao que acontecia há alguns anos”.

O número de casos graves da doença, em que é necessário transplante de fígado, está a diminuir: em 2018 houve 17 casos que resultaram da Hepatite B e 39 da Hepatite C.

No ano passado, foram feitos 32 transplantes: oito por complicações da Hepatite B e 24 da hepatite C.

Outro dado positivo que Rui Tato Marinho destaca é o facto de haver menos doentes em que a Hepatite C evolui para cirrose.

“São fases avançadas da doença, pessoas que já chegaram à fase da cirrose em que o fígado ficou um pouco destruído. O número de casos internados em Portugal também diminuiu desde o início do tratamento da hepatite C, em 2015” acrescenta o gastroenterologista.

A pandemia também atrasou o tratamento da hepatite C, mas, curiosamente segundo Tato Marinho, não diminuiu o número de testes.

“Houve diminuição de tratamentos para a Hepatite C mas a máquina estava em andamento e, apesar da pandemia, Portugal conseguiu realizar mais testes à hepatite B e C do que anteriormente, aliás, isso é reconhecido por um relatório europeu do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças - o ECDC - que salienta que em dois países - Portugal e na Roménia - o número de testes aumentou nestes últimos dois anos”.

Rui Tato Marinho considera que Portugal está no bom caminho para cumprir a meta a que se comprometeu, na sequência do repto da OMS para eliminar as hepatites B e C até 2030, mas para isso vai ter de fazer mais, sobretudo, fazer mais testes, porque ainda há muita gente que tem hepatite B ou C e não sabe.

Há quem fale em 40 mil pessoas, mas Rui Tato Marinho não acredita que sejam tantas, porque desde 2015, 30 mil pessoas já foram tratadas à hepatite C e, entretanto, muitas outras terão envelhecido e, até, morrido.

Hepatites agudas atípicas acabaram?

De acordo com Rui Tato Marinho depois do pico da doença, que afetou crianças por todo o mundo, e obrigou mesmo algumas a fazerem transplante de fígado, há cerca de dois meses deixaram de ser reportados casos.

Até agora não se conhece a origem desta hepatite aguda, pode ter sido um efeito da Covid-19, ou da menor resistência das crianças aos adenovírus. Seja como for, Tato Marinho que preside à task-force criada para acompanhar o surto mundial acredita que a situação não se vai repetir no futuro porque “as circunstâncias do ponto de vista epidemiológico vão ser muito diferentes”.

“As crianças começaram a sair, deixou de se usar máscara, voltaram às escolas, voltaram aos parques infantis, há mais gente protegida, portanto, acho difícil que aconteça a mesma situação. E houve uma coisa muito evidente, nomeadamente no Reino Unido onde é monitorizado o número de infeções por adenovírus que as adenovírus baixaram muito em 2019/2020 e depois houve uma explosão de casos. Ou seja em Inglaterra o pico das infeções por adenovírus coincidiu com o aparecimento desta hepatite aguda, grave, de casos desta hepatite desconhecida nas crianças”, remata

Esta quinta-feira é o Dia Mundial das Hepatites, uma doença que afeta dois mil milhões de pessoas em todo o mundo. É uma doença silenciosa que pode ser detetada através de uma gota de sangue. Para assinalar a data, vários edifícios da DGS, do Ministério da Saúde e alguns monumentos e edifícios camarários vão estar iluminados de amarelo, reafirmando assim o compromisso na luta contra as Hepatites Virais e estigma associado, reforçando a prevenção, o diagnóstico, tratamento e cura, de modo a atingir as metas estabelecidas pela OMS.