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Lisboa já está acima dos 240 casos por 100 mil habitantes. A garantia é deixada na Renascença pelo matemático Carlos Antunes, segundo o qual a tendência é de crescimento nos próximos dias.
“Dia 12, sábado, verificava-se 254 e a tendência é crescente, a própria transmissibilidade está acima de 1, portanto prevê-se que nos próximos dias possa chegar aos 280 casos por 100.000 habitantes. Ainda não há sinal de abrandamento ou de chegarmos a um teto proximamente, tal como tínhamos previsto na semana passada.”
Se Lisboa registar em duas semanas seguidas mais de 240 casos por 100 mil habitantes vai ter de recuar no desconfinamento e adotar novas medidas.
Mas perante o aumento de casos, o professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa alerta para os perigos de não antecipar esta decisão. “Se não houver essa decisão antecipada, ao fim de uma semana acima de 240 casos se tomar essa decisão, teremos de tomá-la mais tarde. Quanto mais adiarmos, mais difícil se torna a situação, porque o que observamos é que não houve nenhuma alteração da situação de confinamento que foi estabelecida a 1 de maio em Lisboa, portanto se a tendência se mantém de subida, sem qualquer medida adicional, a expetativa é que continue a subir.”
Uma subida que não se verifica só em Lisboa, mas também nos concelhos vizinhos. Carlos Antunes avança que muitos poderão atingir rapidamente o limite dos 120 casos por 100 mil habitantes. “Há municípios, todos à volta de Lisboa, que continuam a observar um aumento de taxa de incidência, portanto naturalmente iremos ter esta semana mais casos na grande Lisboa com taxas de incidência acima de 120, para além dos que já foram anunciados.”
“Cascais, Sintra, Amadora, Almada, Loures, Odivelas, Sesimbra, Arruda dos Vinhos. Houve um interregno, por redução de atividade laboratorial que é normal nos fins-de-semana prolongados, por ser feriado, mas isso não alterou a tendência de subida destes municípios”, diz.
O matemático que monitoriza a evolução da pandemia alerta, por isso, que é necessário olhar de uma forma mais abrangente para os números e dá o exemplo de Sesimbra, que antecipou a decisão de recuar no desconfinamento.
“Não se deve olhar só para a taxa de incidência, para o número, temos de olhar para a velocidade com que ele muda. E isso é a taxa de variação diária do número de casos por 100 mil habitantes. Essa taxa, que está diretamente relacionada com o índice de transmissibilidade, é um indicador da dinâmica e quanto maior for a dinâmica mais rápido tem de ser a tomada de decisão.”
“Isso fez-se em Sesimbra, fez-se de certo modo em Lisboa, porque antes de se chegar aos 120 já se estava a acautelar e a tomar um conjunto de iniciativas em termos de testagem, mas tem de se atuar de uma forma mais rápida. As decisões têm de ser tomadas com um maior número de indicadores, e não apenas com um valor fixo que se calcula semanalmente, e tem de se monitorizar diariamente, como nós fazemos aqui na Faculdade de Ciências, e cruzar os indicadores, nomeadamente com a questão dos internamentos, que é uma situação que já começa a ter dimensões de preocupação na Região de Lisboa e Vale do Tejo”, acrescenta o matemático.
Quanto a números concretos, Carlos Antunes revela que dois terços dos internamentos em enfermaria e cuidados intensivos registam-se em Lisboa e Vale do Tejo, com um aumento muito elevado nas últimas duas semanas
“Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, em consequência de um aumento abrupto da incidência, houve relativamente ao mínimo de internamentos um aumento de 191% nas camas de enfermaria e um aumento de 277% nas camas de Cuidados Intensivos. E isso faz com que Lisboa, como região, corresponda já a 66% do total de camas em enfermaria com Covid, portanto dois terços, e 60% das camas em cuidados intensivos Covid a nível nacional. Portanto uma única região é responsável atualmente por dois terços dos internamentos.”
“É a única região na qual se observa um aumento significativo nas últimas duas semanas, quer de internamentos em enfermarias, quer de internamentos em Cuidados Intensivos. E é em todas as faixas, todas estão a verificar esse aumento, mas sobretudo acima dos 30 anos”, conclui o matemático e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.