“É impensável” que os salários e pensões “fiquem na mesma” a manter-se uma taxa de inflação de 8%, afirma o economista João Ferreira do Amaral.
Em declarações à Renascença, o catedrático do ISEG reage aos mais recentes dados da inflação, divulgados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
"Se aumentarem outros custos, nomeadamente os salariais, as empresas terão de reportar isso nos preços, mas eu penso que com o valor da inflação que estamos a verificar, e que vai levar a que a inflação deste ano seja superior às previsões, é evidente que é impensável que os salários fiquem na mesma”, afirma João Ferreira do Amaral.
Para o economista, “isso iria dar uma quebra dos salários brutal e uma queda ainda mais brutal da proporção dos salários do rendimento nacional que já é uma proporção relativamente baixa".
Nestas declarações à Renascença, João Ferreira do Amaral considera que os custos da inflação não podem ser apenas suportados pelos trabalhadores.
"Se os salários não aumentarem ou aumentarem muito menos que a inflação quem paga o processo são os rendimentos salariais e eu penso que isso não é justo sequer. Deve haver uma repartição e para isso é preciso que os salários cresçam."
Há algum histórico de uma diferença tão grande entre taxa de inflação e de um aumento quase zero dos salários? "Se for zero, eu penso que será uma quebra histórica do peso dos salários no rendimento nacional”.
“Além de tudo o mais, está previsto um crescimento da produtividade por trabalhador significativo, na ordem dos 3,5%. Combinar um crescimento da produtividade com uma quebra brutal dos salários reais, dará uma queda brutal do peso dos salários no rendimento nacional”, sublinha.
Ferreira Amaral acredita que os salários “acabarão por subir”, perante a escalada da inflação, e prefere não fazer previsões.
"É impossível responder com certeza. A grande parte tem a ver com acontecimentos relacionados com questões não económicas, nomeadamente a guerra na Ucrânia. É imprevisível saber o que vai acontecer. Uma coisa é certa, é evidente que isto vai espalhar-se a outros setores, além dos combustíveis e matérias-primas agrícolas. Os preços de produção industrial já cresceram imenso nos últimos tempos”, conclui João Ferreira do Amaral.