O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, considerou hoje que a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, é "incapaz de resolver os problemas migratórios" de Itália, país a braços com uma "gravíssima crise migratória".
"O Governo de extrema-direita de Meloni, escolhido pelos amigos da senhora [Marine] Le Pen [líder da extrema-direita em França], é incapaz de resolver os problemas migratórios para os quais foi eleito", afirmou Darmanin.
O ministro do Interior francês respondia na rádio RMC aos comentários feitos pelo presidente do partido de extrema-direita francês União Nacional, Jordan Bardella, sobre a situação migratória na fronteira franco-italiana.
"Sim, há um afluxo de migrantes e, em particular, de menores" no sul de França, reconheceu Darmanin, atribuindo culpas ao "vizinho" italiano.
"A verdade é que há uma situação [de crise] política na Tunísia (...) que faz com que muitas crianças, em particular, entrem pela Itália, que não consegue (...) gerir esta pressão migratória. Meloni é como [Marine] Le Pen, é eleita com base no 'seja o que for' e, depois, o que vemos é que ela [a imigração] não para e que está a aumentar", continuou Darmanin.
Segundo o Ministério do Interior italiano, mais de 36.000 pessoas chegaram este ano a Itália através do mar Mediterrâneo, em comparação com cerca de 9.000 durante o mesmo período em 2022.
As palavras de Darmanin, segundo aponta a agência noticiosa France-Presse (AFP), podem abrir as portas a uma nova crise político-diplomática entre os dois países no tema das migrações.
Em novembro de 2022, as relações dos dois países já tinham ficado tensas quando o Governo de Meloni, que acabara de chegar ao poder, recusou deixar atracar em Toulon o navio humanitário da organização não-governamental (ONG) SOS Méditerranée, que acabou por ser acolhido em França.
O episódio suscitou a ira de Paris, que convocou uma reunião europeia para garantir que este cenário inédito não se repetisse.
Desde então, as travessias clandestinas aumentaram, com o desenvolvimento de um novo corredor marítimo entre a Tunísia e a Itália, na linha da frente da porta de entrada na Europa.
Neste contexto, e no final de abril, a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, anunciou a mobilização de 150 polícias e 'gendarmes' (polícia militarizada) suplementares nos Alpes Marítimos para fazer face ao "aumento da pressão migratória na fronteira italiana", bem como a criação de uma "força de fronteira".
"Na Austrália, funciona muito bem. Na fronteira, interrogamos as pessoas e fazemo-las passar por controlos de identidade", defendeu hoje Darmanin, a este propósito.
Em abril, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) assegurou que o primeiro trimestre de 2023 foi o mais mortífero para os migrantes desde 2017 na rota do Mediterrâneo.