No rescaldo das eleições legislativas, tempo para ouvir um dos políticos mais experientes dos últimos 30 anos. Luís Marques Mendes foi ministro em governos de maioria absoluta de Cavaco Silva e foi o líder do PSD que começou a fazer oposição a José Sócrates em 2005, na primeira vez que o PS conseguiu a maioria absoluta.
O comentador político diz abertamente que o próximo presidente do PSD vai ter uma "vida infernal" por razões externas e internas, com problemas novos e antigos.
“Uma maioria absoluta tem a vantagem de dar tempo à oposição para se preparar e a desvantagem de manter uma oposição durante muito tempo”.
No plano interno, Marques Mendes diz que o novo líder do PSD deve trazer gente nova que não se limite a refletir sobre economia, mas sobre outros temas como a ciência, a cultura ou o ambiente. Sublinha que o PSD tem passado por uma "grande desertificação de quadros políticos de qualidade".
Na sua opinião, o partido desenvolveu nos últimos anos um pensamento muito bem estruturado em termos económicos e fiscais, que tem a ver com o mérito de Joaquim Miranda Sarmento. “O PSD até tem ideias nalgumas áreas, mas não as sabe transmitir. A vida hoje não se esgota na economia. No domínio da ciência, cultura, saúde, coesão social, ambiente e justiça, é preciso que o PSD esteja ativo”.
Sobre o possível novo presidente do PSD, apenas lembra que nem todos os candidatos têm apoios para serem líderes neste momento. “Os nomes mais ventilados têm qualidade. Mas, para além das qualidades, um líder para ser eleito precisa também de condições. No plano dos apoios há uns que podem ter mais condições que outros. Teremos que aguardar a decisão de cada um”.
O ciclo político vai ser longo com quatro anos e meio do PSD na oposição. Marques Mendes, que durou apenas dois anos como líder do partido, reconhece que ninguém sabe se o novo líder do PSD chegará a ser candidato a Primeiro-ministro.
É que até lá há mais uma eleição partidária e o líder pode ser destituído antes das próximas eleições. “O PSD tem a tentação de trocar de ‘treinador’ quando as sondagens não crescem. Este vício não é uma coisa brilhante. É preciso dar tempo ao tempo. É preciso estabilidade também na oposição”.
O antigo ministro social-democrata assume a desvantagem de não dar ao próximo líder o palco parlamentar que é dado ao Chega ou à Iniciativa Liberal. “O PSD nunca esteve dez anos seguidos na oposição. Isso é uma dificuldade. Outra é o facto de, em princípio, o novo líder não estar no Parlamento, ao contrário dos líderes do Chega da IL. Nesta competição à direita, o PSD está desfavorecido”.
Por fim, uma palavra sobre o Presidente da República. O também Conselheiro de Estado diz que seria mau para Marcelo Rebelo de Sousa e para o PSD se o chefe de Estado fosse uma espécie de líder da oposição ao Governo de António Costa.
“Ao Presidente não cabe ser muleta do Governo ou da oposição. Um líder da oposição que queira uma muleta do Presidente é um líder fraco. Mesmo fiscalizando o Governo, o chefe de Estado não deve tornar-se em líder da oposição”.
Pode escutar na íntegra as reflexões de Marques Mendes, entrevistado por José Pedro Frazão, na Edição da Noite depois das 23h00.