Fernando Medina disse esta segunda-feira que não leu, nem vai ler, o livro do ex-governador do Banco de Portugal e que desconhecia a existência da manifestação à porta do antigo responsável, que Carlos Costa diz ter sido autorizada pela câmara.
“Eu não li o livro, nem vou ler”, respondeu Fernando Medina, ao jornalista Pedro Santos Guerreiro, durante a participação na conferência promovida para assinalar o primeiro aniversário da CNN Portugal, em Lisboa.
O ministro das Finanças disse que não queria comentar as afirmações de Carlos Costa no polémico livro, em que acusa o primeiro-ministro de ingerência em matéria de supervisão bancária.
No entanto, questionado sobre a referência do ex-governador a uma manifestação à porta de sua casa, que diz ter sido autorizada pela Câmara Municipal de Lisboa, na altura liderada por Fernando Medina, como forma de pressão por parte do PS, Medina disse que “não fazia a mínima ideia de que isso lá estava”.
“As Câmaras Municipais não têm poder para proibir ou autorizar manifestações, ao abrigo da Constituição portuguesa. […] Não sabia, aliás, que essa tinha acontecido. O direito a manifestações sempre existiu. Se calhar, esse é mais um dos equívocos que esse livro contém”, considerou o ministro das Finanças.
O primeiro-ministro e o antigo governador Carlos Costa estão em conflito, depois de o antecessor de Mário Centeno se ter afirmado alvo de pressões por parte de António Costa para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
As revelações constam do livro “O Governador”, que resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, que liderou o Banco de Portugal entre 2010 e 2020, e tem provocado polémica.
Com prefácio de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, a publicação revela factos até agora desconhecidos sobre a intervenção da 'troika', o caso Banco Espírito Santo, a resolução do Banif, as relações tensas com o antigo primeiro-ministro José Sócrates, com o atual, António Costa, e antigo ministro das Finanças Mário Centeno bem como as ‘guerras’ com o ex-banqueiro Ricardo Salgado e a família Espírito Santo.
António Costa anunciou que irá processar o antigo governador, a quem acusou de ter escrito um livro com mentiras e deturpações a seu respeito e de ter montado uma operação política de ataque ao seu caráter, depois de este ter reafirmado que houve “tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal”.