O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão, espera que o próximo Governo possa colocar em marcha a carreira especial de medicina dentária, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e lembra que se trata de uma promessa por cumprir.
“A medida estava prevista com o atual Executivo que foi abruptamente interrompido. Agora, é fundamental que o novo Governo se comprometa em criar essa carreira para fidelizar mais profissionais no SNS. É uma grande esperança que a classe que tem e que os portugueses merecem”, diz Miguel Pavão à Renascença.
Os cerca de 150 médicos dentistas que trabalham no SNS são insuficientes face às necessidades. Recentemente, a Direção Executiva do SNS apontava a fixação de 180 dentistas até 2026, como forma de melhorar o acesso aos cuidados de saúde oral, através dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, meta que Pavão considera "exequível".
“Este número cerca de 180 médicos dentistas é um número muito fácil de alcançar, atendendo a que estamos a falar em pouco mais de 30 médicos dentistas, em comparação com aqueles que já existem. O que é preciso é mais incentivos e investimento”, afirma o bastonário.
Revitalizar o cheque-dentista
A utilização do cheque-dentista, medida criada há quase 15 anos, tem vindo a diminuir. Segundo dados em 2021, foi utilizado por 400 mil crianças, mas entre 30 por cento a 40 por cento ficaram por utilizar.
Miguel Pavão reconhece que os números não são animadores, mas garante que a Ordem dos Médicos Dentistas trabalhou junto do Governo no sentido de revitalizar a medida, com a perspetiva de que seja alargada a todos os profissionais de saúde envolvidos na gestão da saúde oral no SNS.
“Foi publicada uma portaria no final do ano passado e que já a surtir algum efeito, nomeadamente naquilo que para nós era uma peça fundamental, que era a valorização do valor do cheque-dentista a ser pago ao médico dentista. Há, no entanto, uma vertente que não está ainda a funcionar. Trata-se de um cheque-dentista de prevenção e diagnóstico, dado anualmente a partir dos dois anos, com a possibilidade de a partir dessa idade também haver referenciação para tratamento”, aponta.
Face às longas listas de espera no SNS para esta especialidade, Miguel Pavão defende uma maior articulação com o setor privado, numa complementaridade entre sistemas.
“Temos de recorrer ao setor privado. Há uma rede de clínicas bem apetrechadas, um pouco por todo o país. As limitações de cariz económico das famílias económicas das famílias podem ser compensadas com modelos de comparticipação”, defende.
Esta quarta-feira, assinala-se o Dia Mundial da Saúde Oral, quando que 30% da população portuguesa continua a não consultar um médico dentista.
Esta percentagem preocupa o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas. Miguel Pavão vê nele uma evidência de que ainda há muito a fazer nas políticas dedicadas a este setor.
“A saúde oral viveu, durante muitos anos, o fato de ser o parente mais pobre da medicina. Depois, há vários fatores como os fatores económicos que levam a que as pessoas não consigam aceder aos consultórios de medicina dentária, mas também a fatores relacionados com a literacia e a valorização dos cuidados de medicina dentária”, descreve.
O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas diz que o orçamento público dedicado à saúde oral não ultrapassa os 20 milhões de euros e reclama mais investimento.