A associação Zero alerta, nesta terça-feira, que os veículos híbridos “plug-in”, definidos como "de fachada", são "tão ou mais poluentes que os automóveis convencionais".
Em comunicado enviado às redações, a associação ambientalista adverte para o que classifica como "tendência preocupante" na venda dos veículos elétricos em Portugal, indicando existir uma "preponderância crescente preocupante de automóveis híbridos plug-in".
Segundo a análise feita aos dados de vendas em Portugal de veículos elétricos ligeiros de passageiros até setembro, a Zero observou que foram vendidos 6.882 automóveis híbridos “plug-in” e 5.470 automóveis 100% elétricos – o que corresponde a uma distribuição de 56% para híbridos “plug-in” e 44% para os 100% elétricos.
"Isto é o inverso da distribuição em 2019, em que os 100% elétricos tinham cerca de 55% de quota deste mercado", refere a associação, acrescentando que as vendas dos híbridos 'plug-in' "mais que duplicaram em 2020 face a 2019, com as vendas dos 100% elétricos a baixarem 3%".
O cenário português contradiz, de acordo com a Zero, a tendência verificada dentro do espaço da União Europeia (UE) onde, nos primeiros seis meses do ano, os veículos 100% elétricos lideraram as vendas entre os elétricos, com uma quota de mercado de 52%, e verificaram um crescimento de 40% face às vendas de 2019.
Esta tendência, afirma a associação, apresenta dois grandes problemas: primeiro, os híbridos “plug-in” que estão a ser vendidos "são, em boa medida, elétricos 'de fachada' (...) com emissões reais (...) tão ou mais altas que as de um automóvel comum a combustão interna".
"Segundo, estas vendas de híbridos ‘plug-in’ não se estão a fazer em detrimento das vendas de veículos convencionais, mas sim em detrimento das vendas de automóveis 100% elétricos, esses sim veículos sem emissões diretas de CO2 [dióxido de carbono] e de poluentes", sustenta.
De acordo com a Zero, este panorama de vendas só é possível porque os automóveis híbridos “plug-in”, embora tributados mais que os 100% elétricos, "beneficiam de grandes benefícios fiscais, especialmente nas vendas para o setor empresarial".
"Benefícios fiscais cegos estão a introduzir perversões no mercado", reforça a associação, defendendo que é preciso que o Governo "reveja os mecanismos fiscais que estão perniciosamente a apoiar automóveis híbridos de fachada".
"A Zero alerta para a necessidade de o Governo rever estes mecanismos fiscais no Orçamento do Estado para 2021, tornando-os mais seletivos, de forma a deixarem de apoiar tecnologias poluentes", apelou a associação, defendendo, por outro lado, a reintrodução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida, "mas exclusivamente para apoio à compra de veículos 100% elétricos".
Portugueses compram menos elétricos
Em termos totais, a Zero observa que as vendas de automóveis elétricos em Portugal crescem menos do que no espaço da UE.
Até setembro passado, segundo a associação, as vendas de automóveis elétricos totais acumuladas desde o início do ano cresceram cerca de 38% face a igual período de 2019.
"Estas vendas estão em contraciclo com as vendas totais de ligeiros de passageiros, que baixaram cerca de 39% por força da pandemia [de Covid-19]. Contudo, em comparação com o verificado no primeiro semestre de 2020 na UE, em que as vendas de veículos elétricos cresceram cerca de 77%, em Portugal no mesmo período só cresceram 22%", indica o comunicado.
"Embora seja de saudar a resiliência dos automóveis elétricos mostrada nas vendas em Portugal, mesmo em contexto económico desfavorável, a verdade é que o crescimento ficou aquém do verificado na Europa", reforça.
Apesar de reconhecer alguns progressos, "em particular desde o início de 2020 com a entrada em vigor do limite de 95 gCO2/km", a Zero aponta as "graves deficiências" que ainda prevalecem no regulamento de emissões de CO2 aplicado nas vendas de automóveis novos no espaço comunitário.
"Essas deficiências permitiram que, entre 2016 e 2019, as emissões reais de novos automóveis aumentassem graças às vendas de veículos utilitários desportivos, os SUV (Sport Utility Vehicles)", conclui a associação ambientalista.