Ribau Esteves, autarca de Aveiro, desafia Luís Montenegro a “trabalhar” a afabilidade e elogia o facto de o novo líder do PSD já reconhecer que precisa de o fazer.
Apesar de ter sido um dos principais críticos da candidatura de Luís Montenegro, por causa do histórico de oposição feroz que fez a outros líderes, o presidente da Câmara de Aveiro acredita que esta é uma “fase nova”, onde “unidade” é a palavra de ordem.
À porta do Pavilhão Rosa Mota, no Porto, Ribau Esteves conversa com a Renascença sobre que PSD é este, com Montenegro à cabeça.
Foi um dos principais críticos da candidatura de Luís Montenegro pelo passado de oposição que teve quanto a outros presidentes. Como é que olha para a vitória de Montenegro e também pela forma como integrou é muito dos seus antigos opositores na direção?
Obviamente que nós já todos fizemos oposição uns aos outros. Se há pessoa que nos últimos anos fez oposição feroz, e muitas vezes incorreta, ao líder do partido foi Luís Montenegro. Eu gostei muito do discurso de ontem, mas essa parte em que ele próprio confessa essa sua atitude é de de uma de uma humildade e de uma elegância muito grande.
Portanto, assim como ele arrumou esta fase da vida dele, que foi muito longa, porque obviamente apoiei um outro candidato, achava que havia outro caminho.
Obviamente este Congresso marca um outro tempo, que é um tempo em que de facto é preciso cuidar deste partido. É preciso torná-la uma entidade forte, capaz de liderar a oposição em Portugal e de construir uma alternativa.
Nós estamos aqui para construir. Há um tempo para disputar e para marcar as diferenças e há um tempo para uma fase nova, que é esta que estamos a iniciar.
É um Congresso em que estamos a procurar dar sentido profundo e seriedade à palavra “unidade”.
Essa liderança da oposição a Luís Monteiro não será certamente uma tarefa fácil e parece que o Chega já está a lançar a escada. Deve o PSD votar a favor da moção de censura?
Eu acho que não faz qualquer sentido um governo que tem três meses ter uma moção de censura no Parlamento. É o folclorismo do Chega. O Chega é o episódio de demagogia à volta de um homem.
Apresentar uma moção de censura a um Governo que tem três meses por mais que já tenha feito algumas asneiras, e já fez. Por mais que tenha um ato ridículo e grave democraticamente, que foi este episódio entre o Primeiro-ministro e o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, não faz qualquer sentido político.
O líder do partido fará aquilo que bem entender, se eu fosse líder abstinha-me por um ato de desprezo. O Partido Social-democrata tem de ser oposição credível, séria e profunda.
Como é que isso se faz? Muitas vezes Rui Rio fez uma oposição civilizada e foi ineficaz.
Eu não acho relevante o líder do partido estar no Parlamento, pelo contrário. Luís Montenegro foi muito feliz numa notícia que nos deu ontem.
O líder do partido tem de estar no terreno, tem de estar com as pessoas, conhecer as empresas. Tem de ter uma atitude de presença. Além do mais, infelizmente, em Portugal o deputado é um subproduto da política porque nós desvalorizamos o Parlamento.
Em relação a Rui Rio, ele tinha um problema de afabilidade com as pessoas e um problema de comunicação de fácil perceção. Mas isso são as suas características, ele não é bom, nem mau, por causa disso.
A afabilidade é uma característica que se tem ou não se tem, e Rui Rio não a tem. A comunicação fácil também é, e Rui Rio não a tem.
E Montenegro tem?
Eu acho que o Montenegro tem, no que respeita à facilidade de comunicação, e à capacidade de dizer em poucas as palavras algo que as pessoas percebam, uma capacidade muito elevada.
Tem de falar menos. Ontem temos de lhe perdoar, foi o primeiro discurso como presidente do partido e falou uma hora. Mas obviamente, se o presidente de um partido quiser ser ouvido não pode falar durante uma hora.
Ontem tinha de falar, e falou e nós ouvimos. Mas nenhum português está para aturar um discurso de uma hora.
Julgo que na afabilidade, na relação humana de proximidade, Luís Montenegro tem trabalho a fazer. E achei muito interessante, é de quem tem consciência disso, a ideia de que vai estar uma semana por mês em cada distrito. Isso é muito importante.
Gostei de ouvir o líder a assumir que tem de trabalhar essa dimensão e que isso é importante politicamente para ele e para o PSD.