Origem de quase 90% dos contágios desconhecida. "Rastreios deviam ter aumentado 1000%"
13-01-2021 - 18:19
 • Pedro Mesquita com redação

Infecciologista Jaime Nina considera que o confinamento geral, a "bomba atómica" das medidas, poderia ter sido evitado com mais investimento no rastreio de contactos.

A origem de 87,5% dos contágios Covid-19 não é conhecida em Portugal, porque, logo no início da pandemia, o governo não apostou no rastreio de casos para um isolamento precoce dos contactos. A tese foi defendida pelo infecciologista Jaime Nina, esta quinta-feira, em entrevista à Renascença.

Segundo o jornal Público, este foi um dos temas discutidos na reunião entre especialistas e responsáveis políticos, que aconteceu à porta fechada no Infarmed.

Jaime Nina diz que este número dá "um sinal muito mau" ao país.

"A primeira e mais importante medida de controlo de uma doença pandémica é rastreio de casos e isolamento precoce. Quando 87,5 % não se descobre de onde vem, isto significa só em pouco mais de 10% se consegue fazer isolamento precoce de contactos.

O infecciologista sublinha que o número de pessoas dedicadas aos rastreios aumentou 50% desde Março, mas deveria ter aumentado 1000%.

"Rastreio de casos é uma tarefa de mão-de-obra intensiva, é alguém que está a conversar com o doente infetado, faz a lista de todos os contactos de que a pessoa se consegue lembrar num período de tempo relevante e depois tentar encontrar os contactos, telefonar às pessoas, saber como estão e tentar convencê-las a vir fazer exame", explica o médico.

"Para isto ser feito é preciso gente", lembra. O especialista culpa "a opção que o ministério tomou de fazer contratos" para resolver o problema.

"Contratos na função pública, ainda para mais em período de crise económica, é muito complicado. Portanto o número de pessoas dedicadas a fazer o rastreio de casos ou contactos aumentou qualquer coisa como 50%. Quando devia aumentar 1000%".

Jaime Nina considera que a opção pela chamada "bomba atómica", "a arma de último recurso, que é o confinamento geral", poderia ter sido evitada por uma melhor gestão epidemiológica.

"Sem dúvida que funciona, o problema é o preço a pagar. Cortar a transmissão à custa de acabarmos o ano com um milhão de desempregados ou milhão e meio, tenho impressão que é um preço muito alto", considera.