“Deus torna possível aquilo que parece impossível e gera vida mesmo na esterilidade”, disse esta tarde o Papa aos fiéis de Marselha. Na homilia da missa que celebrou no Estádio Velodrome, Francisco convidou os presentes a interrogarem-se se acreditam, de facto, que Deus age, de forma escondida e imprevisível, na história e “também nas nossas sociedades marcadas pelo secularismo mundano e por uma certa indiferença religiosa”.
A partir dos exemplo de Maria e da sua prima Santa Isabel, cujo menino "saltou de alegria perante a vida”, o Santo Padre sublinhou que a experiência da fé implica saltar de alegria e ser «tocado por dentro». “É o contrário de um coração insensível, frio, acomodado numa vida tranquila, que se tranca na indiferença e se torna impermeável a tudo e a todos, inclusive ao trágico descarte da vida humana, que hoje é rejeitada em tantas pessoas que emigram, bem como em muitos bebés não nascidos e em muitos idosos abandonados”.
No coração de Marselha, a segunda maior cidade francesa, o Papa alertou para os riscos de uma vida mecânica e insensível aos dramas de quem sofre e definiu como “doenças” da sociedade europeia, “o cinismo, o desencanto, a resignação, a incerteza e a melancolia”. Ou seja, “paixões tristes de uma vida sem saltos de alegria".
O Santo Padre considerou que as cidades metropolitanas e muitos países europeus como a França, onde convivem diferentes culturas e religiões, “são um grande desafio contra as exasperações do individualismo, contra os egoísmos e os fechamentos que produzem solidões e sofrimentos” e convidou a aprender de Jesus e a “sentir sobressaltos por quem vive ao nosso lado”.
Francisco deixou elogios à história rica de santidade, de cultura, de artistas e de pensadores, que apaixonou tantas gerações deste país. E concluiu que “também hoje a nossa vida, a vida da Igreja, a França, a Europa precisam disto: da graça dum salto de alegria, dum novo salto de fé, de caridade e de esperança”. Só deste modo os cristãos, “que encontram Deus com a oração, e os irmãos com o amor”, poderão “deixar-se queimar pelos interrogativos de hoje, pelos desafios do Mediterrâneo, pelo grito dos pobres, pelas «santas utopias» de fraternidade e de paz à espera de ser realizadas”.