Quem acredita que a vida não lhe pertence, por ser um dom de Deus, rejeita o suicídio. Mas não pode impor legalmente essa convicção ética à sociedade, aos não crentes. Porém, quando a morte envolve terceiros, como no suicídio assistido e na eutanásia, já a lei deve intervir.
Como disse à Renascença o Bastonário da Ordem dos Médicos, a eutanásia é uma solução anti-social que vai incidir sobretudo nos mais pobres. Nas famílias desfavorecidas existe o risco de os idosos serem empurrados para a eutanásia se ela for legalizada, até porque essas famílias em geral não têm acesso a cuidados paliativos. Estes são tema da discussão que o Bastonário considera dever ser prioritária em Portugal. E sem paliativos não há liberdade de escolha. Lembrou ainda o Dr. José Manuel Silva que na Holanda e na Bélgica, onde a eutanásia é legal, ela se aplica a pessoas com depressão que não foram tratadas.
Curiosamente, estas afirmações - ao contrário de muitas outras do Bastonário da Ordem dos Médicos - tiveram escasso eco na comunicação social. Não eram politicamente correctas.