Nesta terça-feira, dia 13, o Papa Francisco realiza uma viagem de três dias a Nur-sultan, capital do Cazaquistão, para participar no Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais. “Será uma ocasião para encontrar muitos representantes religiosos e dialogar como irmãos, animados pelo desejo comum de paz. Paz de que o nosso mundo está sedento”, disse Francisco no final do Angelus de domingo, onde pediu orações por esta “peregrinação de paz”.
Neste congresso, com mais de 110 delegados, participam os líderes das principais religiões do mundo e, além dos discursos oficiais, o programa inclui momentos de encontro pessoal entre os participantes. Inicialmente, esteve previsto um encontro entre o Papa e o patriarca ortodoxo de Moscovo mas, durante o verão, o patriarca Kiril mudou de ideias e cancelou a sua presença no Cazaquistão.
Este país da Ásia Central, sem acesso ao mar, destaca-se pela sua localização geo-estratégica, numa encruzilhada entre o Ocidente e o Oriente e importantes fronteiras com a Rússia e a China. Só com a vizinha Rússia, o Cazaquistão está separado por uma fronteira de sete mil quilómetros, uma das maiores fronteiras terrestres do mundo.
“Desde a sua independência, este país tenta construir a sua identidade segundo certos valores, entre os quais a paz e a harmonia religiosa entre todas as religiões, etnias ou nacionalidades”, afirmou recentemente o Monsenhor José Sierra, em conferência de imprensa.
O bispo de Almaty e presidente da conferência episcopal do Cazaquistão sublinhou que “o Papa valoriza muito a ideia de se buscar a paz e a concórdia entre todos e vem, precisamente, apoiar esta busca da identidade do país, cujos valores se apoiam na paz e na harmonia religiosa, entre todas as religiões, etnias ou nacionalidades”.
Religiões pela paz
Apesar do contexto ensombrado pela guerra na Ucrânia, a presença do Papa é importante. ”Não é só por causa da Ucrânia e da Rússia, mas tem a ver com a geopolítica mundial. Isto não é só para o Cazaquistão, é para todo o mundo”, refere o prelado. Porque “sempre que as religiões se comprometem pela paz mundial e por criarem uma fraternidade, o resultado é mais eficaz do que muitas instituições a nível internacional”, conclui o Monsenhor Sierra.
Também o arcebispo de Astana, Tomasz Peta, espera que a visita do Papa ajude a pôr fim à guerra na Ucrânia. “Humanamente falando, parece muito difícil, no entanto, a Deus nada é impossível”, afirma.
Em declarações à imprensa internacional, o arcebispo recorda as palavras de João Paulo II, durante a sua visita histórica, em setembro de 2001, apontando o Cazaquistão como “lugar de encontro” e “ponte entre continentes e culturas”. Monsenhor Peta reconhece que é neste contexto que se insere o VII Congresso das religiões que agora recebe o Papa Francisco.
Católicos são minoria de 1% no Cazaquistão
O Cazaquistão tornou-se independente em dezembro de 1991, após o desmoronar da URSS. Com duas línguas principais, o russo e o cazaque, é o nono maior país do mundo, mas tem apenas 19 milhões de habitantes, e caracteriza-se pelo seu contexto multi-étnico e multicultural, com mais de 100 etnias e 40 confissões religiosas. A maioria religiosa é muçulmana (cerca de 70%) e os cristãos são uma minoria, com 25% de ortodoxos e apenas 1% de católicos.
Rico em matérias-primas, o Cazaquistão é conhecido pelo contraste entre a vastidão das suas estepes e tradições nómadas e o estilo futurista contemporâneo da capital, Nur-sultan (antiga Astana), com edifícios vanguardistas, e enormes dimensões arquitetónicas, em ruas e avenidas quase desertas de habitantes.
Durante esta visita estão previstos cinco discursos do Papa e, apesar do objetivo principal ser o Congresso das Religiões, Francisco celebra missa, na quarta-feira, para os fiéis católicos do Cazaquistão e de outros países vizinhos. Confirmada também a presença de um grupo de católicos russos que partiram em peregrinação desde Moscovo, com várias etapas na Sibéria e em Karaganda.
O Cazaquistão, ex-república socialista soviética, foi durante as décadas de terror leninista-stalinista um dos principais destinos para centenas de milhares de condenados a campos de trabalho forçado. Na cidade de Karaganda, entre 1930 e 1960, funcionou o Karlag - um dos maiores Gulags na história da repressão política e religiosa da URSS - e junto ao qual se encontram ainda hoje as valas comuns onde se enterraram milhares de mortos.
Em 2012, os bispos do Cazaquistão construíram e consagraram uma catedral em Karaganda, dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Durante os preparativos para esta visita de Francisco, ainda tentaram que o Papa visitasse esta cidade, a 200 quilómetros de Nur-sultan, mas a proposta não avançou, pelas dificuldades relacionadas com a mobilidade do próprio Papa que preferiu reduzir a deslocação apenas à capital do país.