Uma centena de pessoas pediu este domingo em Madrid, frente à embaixada do Irão, a libertação do espanhol Santiago Sánchez Cogedor, preso pelas autoridades iranianas por ter fotografado o túmulo de Mahsa Amini, cuja morte desencadeou protestos em todo o país.
O protesto, silencioso, foi encabeçado por familiares de Santiago Sánchez Cogedor, de 41 anos, preso com o tradutor que o acompanhava a 2 de outubro, no Irão.
No início do protesto silencioso, que durou cerca de uma hora, a mãe de Santiago Cogedor leu "um manifesto" que disse já ter entregado ao embaixador iraniano em Espanha, Hassan Ghashghavi, e no Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol, a quem agradeceu os esforços diplomáticos para libertarem o filho e o acompanhamento que lhe têm dado na prisão.
Célia Cogedor disse que o embaixador iraniano a recebeu pessoalmente na quinta-feira passada e se mostrou "tremendamente compreensivo", pelo que pediu a todos os que se juntaram hoje ao protesto em Madrid para serem "prudentes e educados" e para se manterem em silêncio.
Ao fotografar o túmulo de Mahsa Amini, o espanhol Santiago Cogedor não pretendeu "atentar contra a segurança do Estado do Irão" e se alguma coisa "ofendeu" os iranianos e os seus dirigentes com essa conduta, a família "pede desculpa", como "com certeza" ele próprio já o fez, escreveram os familiares do detido no texto do manifesto lido por Celia Cogedor.
O mesmo texto lembra que Santiago Cogedor já tinha estado no Irão em 2019 e sempre expressou "opiniões muito positivas" sobre o país, nomeadamente, as suas paisagens, cultura e a hospitalidade e amabilidade dos iranianos, como confirmam as publicações que fez na altura na rede social Instagram.
Santiago Cogedor, considerado "um aventureiro" pelos meios de comunicação social espanhóis, é também um ativista ambiental que em 2019 atravessou o Irão de bicicleta, numa das etapas de uma viagem de vários meses entre Espanha e a Arábia Saudita.
Desta vez, chegou ao Irão no início de outubro e estava a fazer a pé, desde janeiro, um percurso entre Madrid e Doha, no Qatar, tendo como objetivo final ver os jogos de Espanha no campeonato mundial de futebol.
Durante o trajeto, Santiago Cogedor foi participando em iniciativas com escolas, hospitais e outras instituições e entidades, em diversos países, relacionadas com a sensibilização para as alterações climáticas e a defesa do ambiente.
Ao protesto deste domingo em Madrid juntaram-se também pessoas com fotografias de Ana Baneira, uma espanhola de 24 anos presa no Irão desde pelo menos 10 de novembro por ter participado numa das manifestações em defesa dos direitos das mulheres que se têm repetido no país desde a morte de Mahsa Amini.
Santiago Cogedor e Ana Baneira são dois dos 40 estrangeiros que as autoridades iranianas admitiram, em 22 de novembro, estarem presos no Irão por alegado envolvimento nos protestos.
Teerão argumenta que as manifestações estão a ser instigadas e organizadas por países estrangeiros.
O protesto de Madrid foi silencioso e os familiares de Santiago Cogedor optaram pela prudência nas palavras, com esperança de que o espanhol seja libertado em breve, em resultado do trabalho diplomático de Espanha junto das autoridades iranianas.
Quem acabou por ser menos prudente foi Nilufar Saberi, uma iraniana residente em Espanha que se disse "ativista independente dos Direitos Humanos".
Nilufar Saberi pediu a libertação imediata de Santiago Cogedor e Ana Baneira e acrescentou que "outros 20.000 jovens" estão "na mesma situação" dos dois espanhóis no Irão, presos por "causas absolutamente injustas".
"Os iranianos só saem à rua para se manifestarem pacificamente, como estamos a fazer aqui, e são detidos", afirmou.
O Irão tem sido abalado por protestos desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem curda iraniana de 22 anos, que morreu após ter sido detida pela chamada polícia da moralidade, responsável pelo cumprimento do rígido código de vestuário feminino.
Desde essa altura, os protestos transformaram-se num dos mais sérios desafios ao regime teocrata do Irão, instalado pela Revolução Islâmica de 1979.
Em cerca de três meses de protestos, que têm sido fortemente reprimidos pelas autoridades iranianas, morreram mais de 500 pessoas e pelo menos 15.000 foram detidas, segundo a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights.