O ex-Presidente da República Cavaco Silva mentiu sobre o “caso” das alegadas escutas em Belém e foi “completamente indiferente aos interesses do país”, acusa o antigo prim eiro-ministro José Sócrates em entrevista à TVI.
José Sócrates considera que o livro “Quinta-feira e outros dias”, que Cavaco Silva lançou a 16 de Fevereiro, é “inusitado” e “não passa de um traiçoeiro, vil e mesquinho ataque” contra a sua pessoa.
“Há memórias e há bisbilhotice política”, afirma o antigo primeiro-ministro. “O livro deturpa e transforma as nossas conversas”, sublinha.
“Essas reuniões são reuniões em que só há duas pessoas,
não há outras testemunhas, e o mínimo de sentido de Estado levou esses
Presidentes e esses primeiros-ministros a nunca se referirem a essas conversas.”
José Sócrates reconhece que o episódio das alegadas escutas em Belém, ocorrido em 2009, foi um “momento de inversão” na relação com o Presidente da República.
“O Presidente falta à verdade” no caso das escutas, quando diz que tudo não passou de uma invenção da máquina socialista, garante o ex-chefe de Governo socialista.
“Temos provas de que não foi assim”, argumenta Sócrates, referindo-se a um email revelado pelo “Diário de Notícias” em que o jornalista explica que Fernando Lima, o assessor de Cavaco na altura, lhe disse que o Presidente tinha a convicção que o gabinete do primeiro-ministro andava a expiar Belém.
Para José Sócrates, tudo não passou de uma “conspiração do Presidente da República” para o PSD ganhar as eleições desse ano.
“O que nós temos aqui é a prova de que o senhor Presidente mente no livro, falta à verdade. Temos aqui um Presidente da República que numa campanha eleitoral foi capaz de arquitectar uma tramóia para combater um adversário político para o seu partido ganhar as eleições. Quem ganhou foi o PS, mesmo contra essa conspiração do senhor Presidente da República”, reforça o antigo líder do PS.
“Um homem que é capaz de fazer isto é capaz de fazer tudo. Usa métodos infames de política”, acusa José Sócrates.
Sócrates responsabiliza Cavaco pelo resgate da "troika"
Em relação à oposição do ex-Presidente ao PEC 4, antes da intervenção da troika, em 2011, José Sócrates afirma que Cavaco Silva “foi completamente indiferente aos interesses do país”.
“Nessa altura, nós tínhamos um acordo em Bruxelas que nos
salvava da ajuda externa. O senhor Presidente diz: ‘mais cedo ou mais tarde
teríamos de pedir ajuda’. Isso é o que ele diz, mas eu não acredito. Eu, o
Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Conselho acreditávamos [que
seria possível evitar o resgate]", afirma José Sócrates.
“O que provocou a subida dos ratings foi o chumbo do PEC
4. O chumbo do PEC 4 é que obrigou Portugal e pedir ajuda", reafirma o antigo primeiro-ministro, que actualmente é arguido na "Operação Marquês".
Cavaco "em consonância" com o Ministério Público
Sobre este caso de justiça, José Sócrates encontra "uma consonância entre a insinuação do Presidente da República e as suspeitas do Ministério Público". "Tenho verificado isso ao longo dos tempos”, regista.
“Neste inquérito do Ministério Público há uma motivação política, que visava – tenho boas razões para suspeitar disso – porem-me fora da vida política, para calarem a minha voz, impedirem a minha candidatura a Presidente da República e para prejudicarem o PS”, acusa o ex-chefe de Governo.
No livro "Quinta-feira e outros dias", Cavaco Silva escreve que José Sócrates “era de facto uma pessoa em que não se podia confiar e não olhava a meios”.
Cavaco diz que o Governo de José Sócrates pediu à Caixa Geral de Depósitos (CGD) uma garantia bancária para que um empresa construísse a auto-estrada Transmontana. Na entrevista à TVI, o antigo primeiro-ministro responde: “Mais um bom exemplo de outra mentira. Isso é falso e há provas” e assegura que nunca pediu "fosse o que fosse" ao banco estatal.