Associações pró-Rússia acolhem refugiados ucranianos por sugestão do Alto Comissariado das Migrações
24-03-2022 - 17:57
 • Pedro Mesquita

Denúncia avançada pela embaixadora da Ucrânia em Portugal. Inna Ohnivets diz que a situação pode ser perigosa, nomeadamente, para os maridos que ficaram na Ucrânia. Alto Comissariado para as Migrações responde que não faz avaliações políticas, apenas técnicas.

Veja também:


Há associações pró-Rússia, com ligações à Embaixada de Moscovo, a acolher refugiados ucranianos em Portugal. A denúncia foi feita na Renascença pela embaixadora da Ucrânia em Portugal.

Inna Ohnivets alerta que é o próprio Alto Comissariado para as Migrações (ACM) que está a sugerir, para o acolhimento de refugiados, algumas associações supostamente com ligações estreitas à embaixada da Rússia em Portugal.

A embaixadora da Ucrânia considera que isto representa um risco e já deu nota da sua preocupação ao Governo português, hoje mesmo reforçada junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

“Revelamos que o Alto Comissariado para as Migrações de Portugal está a divulgar informação sobre informações sobre associações de imigrantes ucranianos para a cooperação em questões de assistência humanitária e assistência aos refugiados ucranianos e, na lista das associações publicada no site do ACM, além de duas associações ucranianas há cinco outras associações envolvidas em cooperação com o país agressor, a Rússia, durante muitos anos”, adianta Inna Ohnivets.

De acordo com a diplomata, estas associações “cooperam com a embaixada russa” e os seus elementos “participaram em conferências na Rússia, com Vladimir Putin”.

“Existe este conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia há oito anos. Durante este período de tempo, estas associações comunicaram e tiveram uma comunicação muito estreita com a Embaixada da Rússia.”

Inna Ohnivets considera, por isso, que existe risco para os refugiados ucranianos que procuraram abrigo em Portugal e para as suas famílias que ficaram na Ucrânia.

“Os participantes destas associações podem ter alguma informação destas pessoas e depois enviar esta informação para a Embaixada russa”, sublinha.

Os receios são partilhados por Pavlo Sadokha, o presidente da Associação de Ucranianos em Portugal.

“Em Portugal havia uma rede bem desenvolvida de organizações, que pertenciam a uma agência e a uma fundação na Rússia. São agências que em 2016 foram consideradas pela Comissão Europeia como agências de propaganda russa. Sabemos que estas organizações trabalharam e tinham contactos diretos com a Embaixada russa em Portugal”, afirma Pavlo Sadokha.

O presidente da Associação de Ucranianos em Portugal afirma, em declarações à Renascença, que estas organizações, que se denominam como associações dos imigrantes do Leste, “começaram a acolher os imigrantes que vêm da Ucrânia, estão a organizar escolas para crianças ucranianas que fugiram da guerra e ficam com dados pessoais dessas pessoas”.

“Nós achamos que isto é um enorme perigo, porque maridos e pais destas crianças estão a combater na Ucrânia, são alvos de chantagem das forças especiais russas e, se estas organizações que têm contactos diretos com a embaixada russa ficam com dados pessoais destas crianças, eles correm perigo”, alerta Pavlo Sadokha, em declarações à Renascença.

Contactada pela Renascença, a alta comissária para as Migrações explica o que aconteceu. Sónia Pereira diz que foi feita uma transposição para a secção SOS Ucrânia, do seu site, de um conjunto de associações que já eram reconhecidas como referências da sociedade civil.

Quanto às suas alegadas ligações ao regime russo, Sónia Pereira sublinha que o Alto Comissariado para as Migrações não faz avaliações políticas, apenas técnicas.

Por sua vez, o Ministério da Presidência remete, à Renascença, para a resposta da alta comissária para as Migrações.

[notícia atualizada]