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Há uma semana que ninguém entra e ninguém sai de Ovar. A cerca sanitária imposta a 18 de março desertificou as ruas da cidade. Quem sai de casa faz apenas o mínimo indispensável e a atividade económica está totalmente paralisada.
As fábricas deixaram de funcionar e uma semana bastou para que as perdas rondem os 150 milhões de euros. No resto do país, as empresas continuam a laborar, com maior ou menor dificuldade, enquanto Ovar marca passo.
Em entrevista à Renascença, o autarca de Ovar, Salvador Malheiro, pede ao Governo para que salve a indústria local e a impeça de sucumbir à pandemia.
Até esta altura, Ovar regista 110 casos de infeção por Covid-19, mais do dobro do número avançado pela Direção-Geral da Saúde (DGS). “Enquanto eles anunciam que há 58 casos em Ovar, nós temos quase o dobro”, critica o autarca vareiro.
Os empresários de Ovar pedem que a cerca sanitária imposta ao concelho não contribua para a asfixia da economia local. O quê que está, nesta altura, a ser feito para responder a este apelo?
Naturalmente, esta cerca sanitária que foi imposta a Ovar para resolver um problema de saúde pública, e na qual eu me revejo completamente, tem causado grande sofrimento para o povo de Ovar, mas tem causado, também, graves prejuízos para a indústria de Ovar, que foi obrigada a encerrar.
Esta é uma situação distinta daquela que ocorre no país. Temos as nossas empresas e indústrias fora do concelho de Ovar a laborar e a faturar, mas o que é certo é que as empresas e as indústrias de Ovar estão impedidas de o fazer.
Todos já percebemos que o Governo se prepara, e bem, para poder ajudar toda a nossa indústria, mas exige-se que seja feita justiça com as empresas e as indústrias de Ovar, que foram impedidas de trabalhar durante este tempo.
Nesse contexto, estou empenhado em sensibilizar quem de direito, neste caso, os nossos governantes, para que o nosso Governo tenha uma discriminação positiva do setor industrial de Ovar, já.
Mas já contactou o Governo nesse sentido?
Infelizmente, por causa desta calamidade em Ovar, tenho estado em contacto permanente com os nossos governantes e com o Presidente da República e já lhes manifestámos esta pretensão.
Qual é a dimensão das perdas?
O facto de as nossas empresas não poderem expedir os seus stocks está a ter um prejuízo na ordem dos 150 milhões de euros.
Temos empresas de enorme dimensão, um tecido empresarial muito resiliente, muito numeroso e, portanto, aquilo que vamos fazer junto do Governo é uma pressão dialogante, como sempre tem sido feito por parte do município de Ovar.
Como está a situação de saúde dos habitantes de Ovar? Quantos casos positivos estão confirmados e de que forma está a ser organizada a resposta ao número crescente de situações de infeção?
Nós estamos a viver momentos muito críticos, estamos a ter um acompanhamento em tempo real daquilo que se está a passar no que diz respeito aos nossos infetados confirmados.
Neste momento, posso dizer que temos 110 confirmados, mas o número de infetados não me preocupa. O que me preocupa é o número de vidas que nós poderemos salvar.
Temos consciência da gravidade da situação, que é diferente daquela que nos tentam passar, designadamente com os números que surgem todos os dias, por volta do meio-dia.
"Precisamos da ajuda do Ministério da Saúde, porque só testando em massa, poderemos ter um diagnóstico global daquilo que se passa cá"
Em que sentido?
Repare que eles anunciam 58 casos em Ovar e nós temos 110, quase o dobro, e eu posso dizer o nome deles todos, porque eles estão todos aqui referenciados.
Mas mais importante do que isso, começam a surgir casos de extrema gravidade. Ainda, durante esta noite, tivemos três casos e não são apenas de séniores. Temos dois casos de gente nova que apareceu aqui com um estado de gravidade muito, muito elevado.
O que queremos, nesta fase, é realizar o máximo de testes. A maioria dos testes realizados em Ovar foi por iniciativa da Câmara. Precisamos da ajuda do Ministério da Saúde, porque só testando em massa poderemos ter um diagnóstico global daquilo que se passa cá.
É extemporâneo começarmos a dizer que o pico desta calamidade está para breve se não se conhecer uma amostra significativa da nossa população. Portanto, o que reivindicamos, neste momento, é que se possa aumentar a capacidade de testes em Ovar.
Só depois desse diagnóstico poderemos implementar a nossa estratégia, que já estava delineada. Quem puder recuperar em casa, recupera em casa. Quem não puder, porque não tem condições mínimas de higiene e saúde, nós na Câmara já temos hospitais de campanha para enviar essas pessoas que não necessitam de tratamento hospitalar.
Para os que precisam de tratamento hospitalar, já temos o Hospital de Ovar completamente orientado para esse fim.
Só em último recurso é que vamos enviar os nossos infetados para os cuidados intensivos dos hospitais de referência.
Consegue garantir meios humanos em número suficiente para concretizar essa estratégia?
Foi para isso que fizemos um enorme apelo para que médicos, enfermeiros e auxiliares pudessem, de forma voluntária, vir ajudar a população de Ovar.
Temos tido uma resposta extraordinária, que me deixou emocionado. Será esse banco de voluntariado, que já ascende a mais de 30 pessoas, que vai acompanhar os nossos infetados, tentando orientá-los para o destino adequado.
A situação é muito grave em Ovar. Também o é no país e as pessoas vão aperceber-se rapidamente disso.
Por isso, aquilo que peço é testes, testes e mais testes aqui para Ovar e, sobretudo, que exista, também, uma discriminação positiva a quem tem sofrido mais do que os outros, a quem não tem podido trabalhar, para as nossas indústrias, as nossas empresas, porque isso é de elementar justiça.
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