O comunicado oficial da Casa Branca sobre a morte do terrorista Abu Bakr al-Baghdadi, líder do autoproclamado Estado Islâmico, era curto. No entanto, na conferência de imprensa agendada para esta noite, Donald Trump acabou por entrar em muitos detalhes acerca da operação - algo que não é habitual em operações sigilosas como esta.
Por exemplo, em 2011, Obama fez um curto comunicado acerca da morte de Osama bin Laden e não respondeu a quaisquer perguntas. Algumas partes da narrativa continuam pouco claras até hoje - desconhece-se, inclusive, o local onde o corpo do líder da al-Qaeda foi colocado.
Donald Trump, este domingo, adotou uma estratégia diferente: respondeu a uma dúzia de questões e alongou-se nos pormenores.
O presidente norte-americano anunciou que Baghdadi morreu num dos túneis da sua casa segura na Síria, numa “impecável” operação conduzida durante duas horas na província de Idlib, uma das poucas áreas do país ainda fora do controlo do regime Sírio.
“As forças especiais dos EUA executaram um perigoso e ousado ataque noturno no noroeste da Síria e cumpriram a sua missão em grande estilo", garantiu Trump.
Segundo o presidente dos EUA, por volta das onze da noite, horário sírio, oito helicópteros descolaram de uma base no Oeste do Iraque com soldados e uma unidade canina. Aviões e navios deram apoio à parte terrestre da operação. Para tal, precisaram de autorizações para usarem o espaço aéreo da Turquia, Iraque e Rússia, mas sem dar detalhes sobre o que seria feito. A Moscovo, os norte-americanos terão dito apenas que “eles gostariam” do resultado.
Ao chegarem perto do local onde o líder do Estado Islâmico estava abrigado, na região de Idlib, os helicópteros foram recebidos a tiros, mas conseguiram pousar em segurança. Em seguida, de acordo com Trump, explodiram uma parede e entraram no complexo, onde “pessoas estavam a render-se ou a ser baleadas e mortas”. Onze crianças foram retiradas e levadas para um local não-revelado.
Baghdadi terá detonado um colete suicida, ao ver que estava rodeado de soldados americanos, acompanhados de cães.
Donald Trump disse ainda que o líder do grupo terrorista tinha três crianças pequenas com ele, os seus filhos mais novos, levando também à morte dos menores. E que Baghdadi morreu "a gemer, a chorar e a gritar". “Morreu como um cão, como um covarde, a choramingar”, disse Trump. “E francamente, acho que isso é algo que deve ser divulgado”.
O presidente norte-americano revelou ainda que o corpo de Baghdadi ficou num estado irreconhecível e que foi necessário um teste “sofisticado” para provar que era ele. Chamou ainda “falhados” e “cachorros assustados” aos seguidores do líder do Daesh.
Trump revelou alguns detalhes da operação, que habitualmente não são divulgados, tais como:
- Alguns esforços para atingir Baghdadi foram descartados durante algumas semanas, devido aos movimentos imprevisíveis do líder terrorista
- Antes do ataque, os EUA sabiam que o local onde o terrorista estava escondido tinha túneis pelos quais ele poderia tentar escapar
- Os Estados Unidos têm mais DNA do que o necessário para verificar que um dos homens mortos no ataque é Baghdadi
- Os EUA mataram dezenas de pessoas no círculo de Baghdadi e capturaram outras
- Os EUA usaram oito helicópteros e outros navios e aviões para ajudar na operação
O chefe de Estado norte-americano conta que viu toda a operação da Sala de Situação, com oficiais militares, depois de jogar golfe com Lindsey Graham, o senador David Perdue e o comissário de baseball Rob Manfred. Gabou até a qualidade da imagem: “era como se estivéssemos a ver um filme”, afirmou.
Trump desvaloriza morte de bin Laden - e diz que já aí lhe deviam ter dado ouvidos
Na conferência de imprensa, Donald Trump fez questão de desvalorizar o momento da morte de Bin Laden, em comparação com esta vitória - “Nunca ninguém tinha ouvido falar de Osama Bin Laden antes do World Trade Center”. “Osama bin Laden tornou-se grande com o World Trade Center. Este é um homem que construiu, como ele gostaria de chamar-lhe, todo um país", disse, sobre Baghdadi.
O presidente dos EUA fez ainda declarações falsas sobre ter previsto um ataque terrorista de bin Laden no livro “The America We Deserve” (“A América que nós merecemos”). Trump diz mesmo ter alertado o país que bin Laden devia ser morto e ninguém o ouviu.
“Se lerem o meu livro, há um livro que saiu antes de o World Trade Center ter vindo abaixo, e nunca me dão qualquer crédito por isto, mas tudo bem, nunca dão. É um livro com muito sucesso”, afirmou. “Se me tivessem ouvido, muitas coisas teriam sido diferentes”.
No livro, Trump menciona vagamente a possibilidade de uma ameaça terrorista e fala de bin Laden, mas não diz nada em específico.