Os Estados Unidos da América apelaram esta segunda-feira para a restituição imediata do Governo civil sudanês, derrubado por militares, e anunciaram a suspensão de 700 milhões de dólares (603 milhões de euros) em ajuda financeira à transição.
"Os oficiais militares devem libertar imediatamente todos os atores políticos e garantir a sua segurança", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, numa conferência de imprensa.
O responsável apelou ainda para que não haja "qualquer recurso a violência contra os manifestantes", em particular de munições reais.
"O Governo de transição liderado por civis deve ser restituído imediatamente", apontou, frisando que tal "representa a vontade do povo".
Price acrescentou que "à luz destes desenvolvimentos", os Estados Unidos decidiram suspender a "totalidade do montante" para o apoio à transição democrática, no valor de 700 milhões de dólares.
Washington anunciou, no final de dezembro de 2020, a retirada do Sudão da lista de países que patrocinavam o terrorismo, na qual se encontrava desde 1993 e que limitou o país na busca de financiamento externo junto de organizações internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Durante a tarde, os EUA tinham já expressado o seu "alarme" com o golpe de Estado militar no Sudão, tendo pedido a "libertação imediata" do primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, e do resto dos ministros e representantes políticos civis detidos no país, segundo a porta-voz-adjunta da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Abdalla Hamdok, a sua mulher, vários ministros e representantes proeminentes da sociedade civil sudanesa foram detidos por militares durante a manhã desta segunda-feira.
O presidente do Conselho Soberano sudanês, o mais alto órgão de poder no processo de transição do Sudão, general Abdel-Fattah al-Burhan, dissolveu o Governo e o próprio conselho, horas depois de os militares prenderem o primeiro-ministro.
Al-Burhan leu uma declaração na televisão estatal sudanesa, na qual anunciou a instauração de um estado de emergência em todo o país entre um conjunto de nove pontos, que incluíram a dissolução do Governo e do Conselho Soberano, assim como a suspensão de vários artigos do documento constitucional que lançou as bases para a transição após o derrube de Omar al-Bashir em abril de 2019.
A Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou o golpe de Estado em curso no Sudão, tendo pedido aos militares para "respeitarem a ordem constitucional e se retirarem das ruas".
A União Europeia também se manifestou "muito preocupada" com as notícias de um golpe de Estado no Sudão e apelou à "rápida libertação" dos dirigentes civis do Governo, assim como ao restabelecimento "urgente" das comunicações no país.
A União Africana (UA) apelou à "retoma imediata" do diálogo no Sudão, pela voz do presidente do órgão executivo da organização, Moussa Faki Mahamat, que disse ter tomado "conhecimento com profunda consternação dos graves desenvolvimentos" no país.
Estados Unidos da América, Alemanha e França, entre outros países, condenaram igualmente o golpe de Estado e apelaram à libertação dos dirigentes civis sudaneses.