A Comissão Política Nacional do PSD chamou a si, esta quinta-feira, a elaboração da lista de candidatos a deputados pelo círculo de Setúbal, disse à Lusa o presidente desta distrital, que acusa a direção do partido de promover “a divisão e a intriga”.
“A Comissão Política Nacional decidiu, de forma unilateral, avocar o processo de elaboração das listas em Setúbal entregando essa responsabilidade ao dr. Fernando Negrão [número dois] e ao cabeça de lista do distrito [Nuno Carvalho]”, afirmou Bruno Vitorino.
O líder do PSD/Setúbal classificou esta decisão como “surpreendente” e considerou que “não respeita nem as estruturas do partido nem os seus estatutos”, dizendo não se recordar de nada semelhante nos últimos anos no partido.
“Foi com muito espanto que recebemos esta informação do secretário-geral e do presidente, queremos lamentar de forma profunda como a nacional está a gerir o processo, a promover a divisão, a intriga. Não sei como é que isto vai ajudar o partido nos desafios que tem pela frente”, criticou.
Bruno Vitorino salientou que, apesar do “primeiro episódio” de exclusão da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, das listas por Setúbal, e imposição do número dois, a distrital não abdicou das suas competências e mantinha a disponibilidade para participar no processo de elaboração da restante lista.
“A lista de Setúbal que apresentarem no Conselho Nacional será da exclusiva responsabilidade do dr. Fernando Negrão, do cabeça de lista e do dr. Rui Rio”, apontou.
Apesar desta decisão, Bruno Vitorino diz que tem pedido às pessoas que foram indicadas pelas estruturas locais e que venham a figurar na lista final que não abdiquem do seu lugar, salientando que as indicações iniciais “eram as pessoas mais competentes e mais capazes de representar o distrito”.
“Foi de boa fé que indicámos o nome da dr. Maria Luís Albuquerque e dos restantes”, afirmou Bruno Vitorino, que também fazia parte dos nomes indicados pelas estruturas locais.
Questionado se admite demitir-se da liderança da distrital de Setúbal, Bruno Vitorino afirmou que “está tudo em cima da cima”, remetendo qualquer decisão para uma reunião que terá com a estrutura já depois do Conselho Nacional de dia 30, no qual estará presente.
Na terça-feira, fontes distritais e da direção disseram à Lusa que a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tinha sido excluída da lista de candidatos a deputados do PSD por Setúbal, e o líder parlamentar Fernando Negrão seria segundo por este círculo.
Na quarta-feira, também a distrital de Braga disse à Lusa que a direção nacional do PSD afastou "por vontade do presidente" o ex-líder parlamentar do PSD Hugo Soares das listas ao parlamento nas próximas legislativas e "impôs" o vice-presidente da câmara, Firmino Marques.
O jornal i noticia hoje uma outra reunião muito tensa entre a direção nacional e a distrital de Santarém, com ameaças verbais e quase físicas entre o vice-presidente do PSD Morais Sarmento e o autarca Ricardo Gonçalves, devido à imposição do nome do atual deputado Duarte Marques.
Hoje, em entrevista à rádio Observador, o presidente do PSD, Rui Rio, recusou comentar casos concretos relacionados com a lista de deputados do PSD, remetendo para a sua divulgação completa na reunião do Conselho Nacional de terça-feira.
A escolha dos cabeças de lista é prerrogativa do presidente do PSD, já tendo sido divulgados os nomes dos ‘número um’ pelos 20 círculos que cabia a Rui Rio escolher (Madeira e Açores têm competência própria na escolha de candidatos a deputados).
Quanto à restante composição das listas, os estatutos do PSD não definem qual a ‘quota’ de candidatos que a direção pode impor às estruturas regionais, e apenas determinam que compete às distritais “propor à Comissão Política Nacional candidaturas à Assembleia da República, ouvidas as Assembleias Distritais e as Secções”.
As listas de candidatos a deputados do PSD serão votadas, de braço no ar, no Conselho Nacional do partido da próxima terça-feira, em Guimarães (Braga).